Título: Senadores assumem que doam passagens
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 18/03/2009, O País, p. 3

MP abre inquérito para apurar se Roseana usou bilhetes pagos pela Casa com assessores.

BRASÍLIA. A denúncia envolvendo o uso de passagens pagas pelo Senado para levar amigos, parentes e aliados políticos da senadora Roseana Sarney (PMDB-MA) de São Luís a Brasília provocou a reação da grande maioria dos senadores da Casa. Com raras exceções, quase todos admitiram que essa é uma prática comum, que a cota mensal de cinco a sete passagens de ida e volta - que deveria ser usada pelo parlamentar para deslocamento para seu estado de origem - é destinada a terceiros: sejam eleitores em dificuldades, prefeitos ou familiares.

Mas esse não é o entendimento da Procuradoria da República no Distrito Federal, que abriu ontem um inquérito civil para apurar a denúncia de que Roseana Sarney usou sua cota de passagens para levar a Brasília sete pessoas que não são seus assessores diretos. A investigação ficará a cargo da procuradora da República Anna Carolina Resende. Roseana afirmou que não está preocupada e que vai responder a todos os questionamentos do Ministério Público.

Roseana prepara nova equipe

A senadora distribuiu declarações e cópias de compra de passagens enviadas pelas pessoas listadas pela agência Sphaera Turismo, negando que tivessem viajado no fim de semana de 6 a 8 de março com bilhetes pagos pelo Senado, da sua cota pessoal. Segundo Roseana, ela levou a Brasília um grupo de pessoas, mas não as listadas pela agência.

- Para mim, não tem problema a investigação do Ministério Público. Eu respondo se quiserem. Os que vieram na minha cota vieram para trabalhar. Mas não vou dizer quem é porque vou estar dizendo o que estou fazendo. E vou continuar mandando buscar enquanto eu puder, porque não posso me deslocar para São Luís. Pergunte aqui a todos os senadores se eles também não mandam buscar com a cota do Senado - disse a senadora, sugerindo que tratou com essas pessoas questões políticas relacionados a seu eventual novo governo do Maranhão, se Jackson Lago (PDT) for cassado.

O senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) tem uma cota de R$20 mil mensais - o valor de cada senador varia de acordo com a distância de seu estado de origem - e ele diz que sempre doa parte de sua cota para atender aliados ou pessoas que lhe pedem passagem:

- Para mim, é novidade se há restrição. Enquanto não regulamentam, não é errado. Todos aqui doam, porque tem que movimentar a base, prefeitos. Quando me pedem, analiso o motivo e dou.

Senador do DF também tem cota

Gilvam Borges (PMDB-AP) não esconde: doa passagens pagas pelo Senado, mesmo que desvirtue o real sentido da cota - a locomoção do parlamentar para seu estado.

- Eu uso para atender os eleitores e para meus deslocamentos pessoais. Por causa disso, sempre fico devendo. Desvirtua, mas às vezes tem pessoas que precisam - disse Gilvam.

Gim Argello (PMDB-DF) tem uma cota de R$13 mil para passagens, mesmo morando a poucos quilômetros do Congresso. Ele disse que não dá para ninguém e usa toda a sua cota pessoalmente. Se embaraçou quando perguntado para onde viaja, já que mora em Brasília.

- Hum! Para onde eu vou mesmo? - tentou responder, gaguejando.- Vou às vezes para o Rio, para São Paulo... mas não é a passeio não, sempre que tem alguém interessado em conversar sobre assuntos do Congresso e me convidam, eu vou.

Renato Casagrande (PSB-ES) defende que, a cada três meses, as passagens que não forem usadas pelos senadores que sejam devolvidas.