Título: Em meio a denúncias, a descoberta de que o Senado tem 136 diretores
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 18/03/2009, O País, p. 4

O CONGRESSO MOSTRA SUAS ENTRANHAS: Contratos de terceirizados serão revistos.

Petrobras, a maior empresa brasileira, tem seis, e a Vale, sete executivos

BRASÍLIA. Numa ação planejada para neutralizar a onda de denúncias que atingiu o Senado desde que foi eleito presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP) decidiu ontem tomar uma medida drástica: determinou o afastamento do cargo de todos os servidores que atuam como diretores na instituição. Com a medida, uma revelação: o Senado tem 136 diretores, secretários e subsecretários com status de diretor - é um diretor para cada 19 funcionários ou quase dois diretores para cada senador. A Petrobras, a maior empresa brasileira, por exemplo, tem seis diretores. A Vale, que atua em diversos países, tem apenas sete diretores executivos, além de diretores de departamentos.

Hoje, em reunião da Mesa, Sarney deverá assinar convênio com a Fundação Getulio Vargas (FGV), que será contratada para comandar ampla reestruturação administrativa do Senado com o objetivo de reduzir despesas e otimizar investimentos. De acordo com a assessoria de Sarney, serão anunciados pelo menos nove projetos modernizantes.

Uma das novas medidas deverá ser a revisão dos contratos dos mais de três mil funcionários terceirizados. Reportagem do GLOBO no domingo mostrou que diretores do Senado usam as empresas terceirizadas para contratar parentes, num nepotismo disfarçado.

- Amanhã (hoje) assino uma proposta de reestruturação da Casa que será conduzida pela FGV. Por isso, estou pedindo que todos os diretores coloquem seus cargos à disposição para que possamos ter liberdade para fazer um balanço dos cargos que são efetivamente necessários e quais são dispensáveis - adiantou Sarney.

Sarney já havia sido obrigado a demitir dois dos principais diretores da Casa: Agaciel Maia, que foi diretor-geral por 14 anos, e João Carlos Zoghbi, da Secretaria de Recursos. Ambos foram afastados em meio a denúncias de que teriam omitido patrimônio de suas declarações de renda. Esta semana, outros três diretores entraram na mira da Casa por terem parentes empregados por empresas prestadoras de serviço ao Senado.

Sarney negou que as medidas previstas tenham sido motivadas pelas denúncias:

- Isso já estava previsto dentro das nossas ações.

A divulgação da decisão de afastar de uma vez só todos os diretores foi recebida com surpresa especialmente por aqueles que apoiaram a candidatura de seu adversário, o petista Tião Viana (AC), na disputa pela presidência do Senado.

- Minha única ressalva é que parece que o presidente Sarney está tendo uma reação aos episódios - disse o líder do PDT, Osmar Dias (PR).

O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), ficou espantado:

- Ter 136 diretores no Senado é uma aberração. Tem prefeitura que funciona com apenas sete secretários, e por que o Senado precisa de tanto diretor? Tem que extinguir um monte. Sarney precisa cortar fundo, é um caminho irreversível.

COLABOROU Maria Lima