Título: Clodovil, estilista e apresentador de polêmicas
Autor:
Fonte: O Globo, 18/03/2009, Rio, p. 14

Clodovil, estilista e apresentador de polêmicas

Nos anos 80, todas as vezes em que ele entrava no ar, o ibope do programa "TV Mulher" subia. Estilista de muito sucesso nas décadas de 60 e 70 e grande rival de Dener, Clodovil Hernandes começou sua carreira de apresentador dando conselho a espectadores naquele que se tornou um dos programas revolucionários da história da televisão brasileira. Mas sua empatia com o público já havia sido provada em 1976, quando participou de um programa, também da Globo, em que respondia a perguntas sobre a vida da mineira Dona Beja, personalidade influente do século XIX.

Esses 20 minutos diários no "TV Mulher" deram muita popularidade a Clodovil. E já mostravam que a fama de polêmico e debochado estava apenas começando. Depois da Globo, de onde saiu após brigar com a jornalista Marília Gabriela, Clodovil apresentou programas na Manchete ("Clô para os íntimos"), CNT, Rede TV e TV JB.

Ao longo da carreira, Clodovil brigou com chefes, entrevistados, apresentadores concorrentes, colegas de emissora e humoristas. Era considerado mal-humorado e arrogante. Ainda assim conquistou público fiel com sua extravagância. "Não existe pergunta grosseira, existe resposta grosseira", justificou-se em uma entrevista.

Clodovil, nascido em Elisário, em São Paulo, em 17 de junho de 1937, e adotado por um casal de espanhóis, não escondia sua homossexualidade. Não levantou bandeiras - afirmava até mesmo que era contra -, mas falava do assunto em uma época em que o tema era ainda muito tabu.

Em 2006, Clô se candidatou a deputado federal por São Paulo. Com uma campanha econômica - os gastos declarados foram de R$14.300 -, disputou pelo PTC e recebeu 493.951 votos (foi o 3º mais votado no estado e 4º do país). Após a divulgação do resultado, dizia que, se tivesse usado a força da publicidade, teria conquistado pelo menos dois milhões de votos.

Antes da posse na Câmara, Clodovil disse ao jornal argentino "Perfil" que poderia barganhar seu apoio ao governo em troca de dinheiro. "Vou aprender com os políticos com experiência, mas não me ensinarão a roubar porque eu, por pouco, não vou me sujar. Tudo dependerá de quanto me ofereçam para votar os projetos do governo", afirmou, segundo o jornal. Depois, alegou ter sido mal interpretado.

Em seu primeiro discurso na tribuna da Câmara, Clodovil mostrou que sua passagem pela Casa não seria discreta: "Fala-se muito em decoro parlamentar. Não sei o que é decoro com um barulho desses enquanto a gente fala. Aqui parece um mercado. Isso aqui representa um país ", reclamou dos colegas que não prestavam atenção.

Uma das maiores polêmicas em que se envolveu foi em abril de 2007. Depois de afirmar que as "mulheres ficaram ordinárias", Clodovil, ao ser confrontado pela deputada Cida Diogo (PT-RJ), disse que não estava falando dela, mas de "mulheres bonitas". Dias depois, diante da imensa má repercussão, pediu desculpas às mulheres.

Pelos corredores da Câmara, Clodovil desfilava com seu estilo próprio. Vaidoso, gastou uma pequena fortuna (pelo menos R$200 mil) redecorando o gabinete - com dinheiro do próprio bolso, garantia -, que ganhou sofás brancos com brasão da República.

Se durante a campanha e o início do mandato, Clodovil era crítico ao governo Lula, sua posição ficou diferente em setembro de 2007, ao trocar o PTC pelo PR. Por causa da mudança, foi processado por infidelidade. Mas, semana passada, o Tribunal Superior Eleitoral decidiu que ele não precisaria devolver o mandato ao PTC.

Em 2005, Clodovil descobriu um câncer maligno na próstata, que foi retirado. "Não tenho medo do câncer. Não tenho medo de morrer. Não gostaria de sofrer, mas morrer, todos vamos", disse à época. Em junho de 2007, sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico de leve intensidade, foi internado e se recuperou.

Encontrado segunda-feira desacordado em seu apartamento em Brasília, Clodovil foi internado no Hospital Santa Lúcia, vítima de um grave AVC. Às 15h45m de ontem, teve a morte cerebral decretada. Atendendo a um pedido dele, seus sinais vitais foram mantidos para a retirada de órgãos para doação. No entanto, às 18h50m, ele sofreu uma parada cardíaca, inviabilizando o procedimento.

O corpo de Clodovil será velado a partir das 12h de hoje na Assembléia Legislativa de São Paulo e sepultado no Cemitério Morumbi, às 17h30m, ao lado do de sua mãe, Isabel Sanches Hernandes.