Título: No Brasil, nunca houve a euforia hiperliberal que afetou outros países
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 18/03/2009, Economia, p. 16

Indicado para conselho da Bolsa, ex-presidente do BC defende juro menor.

O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga confirmou que está disputando a presidência do Conselho de Administração da BMF&Bovespa S.A. O convite foi feito ontem. A indicação de Armínio, sócio da Gávea Investimentos, deverá ser confirmada numa votação de acionistas marcada para fim de abril. Se seu nome for aceito, ele vai ocupar a vaga que hoje é de Gilberto Mifano. A BMF&Bovespa é a quarta maior bolsa do mundo.

Liana Melo

O senhor confirma que foi convidado para concorrer à presidência do Conselho de Administração da BMF&Bovespa?

ARMÍNIO FRAGA: Confirmo sim, mas só pretendo falar sobre o assunto depois do sinal verde dos acionistas da Bolsa.

No caso de ser aprovado, o senhor vai assumir num momento delicado, ainda que o país esteja numa posição bem mais confortável do que outros países...

ARMÍNIO: Estamos numa posição boa sim e, por isso, não estamos precisando lidar com a ressaca de avalanche colossal que atingiu outros países.

Na sua opinião, por que o país acabou não sendo atingido na mesma proporção de outros países?

ARMÍNIO: Porque aqui no Brasil nunca houve a euforia hiperliberal que afetou outros países.

Se estamos numa posição mais confortável, isso significa também que temos margem para negociar?

ARMÍNIO: Temos espaço para reduzir a curva de juros e títulos de longo prazo. Como a inflação está sob controle, poderíamos chegar ao fim do ano com juros reais próximos aos do México, de 4%. Hoje, no Brasil, os juros reais estão em torno de 7%. Para chegarmos ao patamar mexicano, a Taxa Selic deveria baixar para algo em torno de 10%.

Qual a projeção de PIB com que a Gávea Investimentos está trabalhando para 2009?

ARMÍNIO: Não fazemos projeções, mas, sem dúvida, teremos um nível de atividade mais modesto em 2009. Já tivemos uma desaceleração no último trimestre de 2008 e não teremos um bom desempenho no primeiro trimestre deste ano.

O presidente Lula esteve no fim de semana com o presidente americano, Barack Obama, e defendeu a estatização dos bancos. O que o senhor, que já foi presidente do BC e hoje está à frente de um banco de investimentos, acha da proposta?

ARMÍNIO: O governo Obama está submetendo os principais bancos americanos a testes de estresse, para verificar se eles têm capital adequado para atravessar o período de crise econômica. Aqui não tivemos necessidade de passar por isso, porque não demos moleza para os acionistas. Nosso Proer é um modelo de reestruturação e fortalecimento do sistema financeiro muito bem acabado.