Título: A gasolina no meio do caminho
Autor: Ordoñez, Ramona; Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 19/03/2009, Economia, p. 19

Para Lula, queda no preço de combustíveis depende de impacto em contas da Petrobras e do governo.

Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva está em uma encruzilhada: reduzir os preços da gasolina e do óleo diesel - que estão até 33% mais caros nas refinarias que os cobrados nos EUA - ou manter a receita da Petrobras e, consequentemente, a contribuição da estatal às contas do governo. Lula disse ontem que pretende fazer uma reunião com a Petrobras para avaliar a viabilidade de a empresa reduzir os preços de gasolina e diesel, considerando a forte queda dos preços do petróleo no mercado internacional desde o fim do ano passado.

Em visita ao terminal de regaseificação de Gás Natural Liquefeito (GNL) da Petrobras na Baía de Guanabara, em fase de testes de operação, Lula disse que é preciso analisar os efeitos de uma redução de preços, tanto para a Petrobras como para o governo, que receberia menos recursos da estatal para o superávit primário:

- É uma reunião que temos que fazer com a Petrobras. O ministro (de Minas e Energia, Edison Lobão) tem que conversar com a Petrobras e ver qual é a oportunidade de fazer isso sem causar nenhum problema à Petrobras, sem causar nenhum problema ao superávit, porque vocês sabem que a Petrobras contribui muito com o superávit primário que o governo faz. Então, com muita tranquilidade, nós vamos discutir esses assuntos.

Estatal: reajustes a longo prazo

Na edição de ontem, o GLOBO mostrou que a Petrobras está vendendo a gasolina em suas refinarias entre 22% e 33% acima dos preços cobrados no mercado americano, e o óleo diesel, entre 45% e 68%.

O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, que acompanhou Lula na visita ao terminal, voltou a dizer que a estatal não repassou as altas do petróleo no ano passado, assim como não repassa as quedas a curto prazo. Desde julho, a cotação do petróleo já caiu mais de 65%. Mas, segundo a Petrobras, a política de preços da gasolina e do diesel, que representam 60% de sua receita, é de longo prazo. Em maio de 2008, com o petróleo em alta, a empresa chegou a reajustar a gasolina em 10% nas refinarias, mas sem impacto para o consumidor, já que o governo abriu mão de impostos para impedir pressão na inflação.

- Sempre falamos que não vamos repassar para o mercado brasileiro nem os surtos de alta nem os surtos de baixas de preços internacionais. Nossa política de preços tem que ter uma relação com mercado internacional, mercado brasileiro, câmbio, mercado futuro de petróleo e derivados - afirmou Gabrielli, acrescentando que o mercado é livre para importar.

Críticas ao humor de Evo Morales

Sobre possíveis mudanças na caderneta de poupança, Lula voltou a afirmar que é preciso preservar os pequenos investidores.

- Nós temos um cuidado, porque não podemos permitir que as pessoas que têm seus R$50 mil, seus R$10 mil, seus R$15 mil, seus R$5 mil, tenham prejuízo na caderneta de poupança. Precisamos criar um instrumento para garantir que os poupadores continuem colocando na sua poupança.

No terminal, que tem capacidade para processar 14 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural, Lula mandou um recado ao presidente da Bolívia, Evo Morales. Segundo ele, o terminal do Rio, junto com o de Pecen, no Ceará, é um importante passo para a independência do Brasil em relação às importações de gás:

- A gente não pode ter uma matriz energética dependente de outro país. Vamos continuar a importar gás da Bolívia, mas é importante que o mundo saiba que vamos ter esse gás com outros mecanismos, que não vamos ficar dependendo do bom humor de ninguém. Vamos nos virar.

Lula disse que a decisão de construir os terminais, que permitem importar gás por navios na forma líquida, foi tomada "no auge da crise com a Bolívia", em 2006. Os dois terminais têm capacidade de processar 21 milhões de metros cúbicos por dia, contra 30 milhões importados da Bolívia. O terminal do Rio custou R$865 milhões e ficou pronto num momento que não tem uso, pois o GNL só servirá para geração de energia nas termelétricas, caso os reservatórios das hidrelétricas tenham menor volume de água.

oglobo.com.br/economia