Título: Banco Central afirma que indexação impede queda maior da taxa de juros
Autor: Duarte, Patrícia; D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 20/03/2009, Economia, p. 20

Diretores defendem revisão da correção da poupança e dos financiamentos habitacionais.

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O Banco Central (BC) saiu ontem em defesa do fim da indexação na economia, caso, por exemplo, da caderneta de poupança e de parte dos financiamentos imobiliários, atrelados à Taxa Referencial (TR). Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, e em palestras de dois de seus diretores, a autoridade monetária disse que os resquícios de indexação impedem uma queda maior da taxa básica dos juros.

Na ata, a indexação foi classificada como um fator negativo, ao falar dos "mecanismos de reajustes que contribuem para prolongar no tempo pressões inflacionárias observadas no passado" e que ajudaram a puxar para cima, por exemplo, os preços dos serviços este ano.

Para os analistas, o BC se referiu à poupança e a sua forma de rentabilidade (TR mais 6% ao ano), que será alterada pelo governo. O objetivo é reduzir a rentabilidade, para evitar a migração em massa de grandes investidores para a caderneta, uma vez que outras aplicações (como fundos de investimento) têm perdido ganhos com a tendência de queda da Selic.

Já Mario Torós, diretor de Política Monetária do BC, disse, em seminário promovido pela Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima), que o país precisa avançar na desindexação.

- Para que avanços sejam feitos na política econômica como um todo, não apenas na política monetária, é preciso fazer mudanças. A poupança é um exemplo - disse Torós.

Meirelles diz que BC manterá política agressiva de cortes

A taxa real de juros reais na economia, considerando a inflação projetada para 360 dias, segundo ele, já é de 5,4% ao ano. Inferior à remuneração da poupança, de 6% mais TR.

- Se não houver avanços na desindexação, poderá haver empecilhos para a política econômica - disse Torós.

No mesmo evento, Alexandre Tombini, diretor de Organização e Normas do BC, bateu na mesma tecla. A crise internacional, disse ele, criou um novo ambiente e acirrou o debate sobre a política monetária:

- Esse novo ambiente impõe novos desafios e requer ajustes institucionais importantes para preservar o equilíbrio entre os instrumentos de captação e de aplicação do sistema financeiro.

Já o presidente do BC, Henrique Meirelles, sinalizou ontem que o Copom deve manter uma postura agressiva de corte na Selic para enfrentar os efeitos da crise internacional sobre a economia brasileira. Segundo ele, a política monetária é um importante instrumento que o país possui contra a retração da economia.

- Isso é um ganho institucional. Pela primeira vez se pode cortar as taxas de juros para fazer o país crescer - disse Meirelles ontem à noite durante evento na Câmara Americana de Comércio (AmCham), em São Paulo.

Segundo ele, o fato de dispor da política monetária para ações anticíclicas revela a estabilidade econômica conquistada pelo país.

- Vamos sair da crise mais fortes que antes - disse.

Na ata do Copom, porém, o BC não deixa claro quais serão os próximos passos. Segundo o documento, a desaceleração da atividade econômica reduziu os riscos inflacionários a curto prazo, permitindo que o comitê acelerasse o corte de juros, que passou de 12,75% para 11,25% ao ano na semana passada. Para o Copom, a recuperação econômica virá apenas em 2010.

O entendimento geral é de que virão novos cortes, mas não necessariamente com a mesma intensidade. Para a reunião de abril, as estimativas variam entre redução de 1 a 1,5 ponto percentual, mas há consenso de que a taxa encerra o ano no patamar inédito de um dígito.