Título: Lula: barreiras argentinas são naturais
Autor: Rodrigues, Lino; Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 21/03/2009, Economia, p. 33

"Isto aqui não é convento de freiras", diz presidente em reunião com Cristina Kirchner

SÃO PAULO e BUENOS AIRES. Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Argentina, Cristina Kirchner, tentaram minimizar ontem, durante encontro na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), os problemas envolvendo medidas protecionistas adotadas pelo governo do país vizinho contra produtos brasileiros em decorrência da crise global. Lula disse que as barreiras adotadas pelo Brasil em relação aos produtos argentinos, e vice-versa, "são naturais".

- Isto aqui não é um convento de freiras. São duas nações com interesses internos - afirmou Lula. - Quando acontece qualquer coisa aqui no Brasil, na Argentina, nos EUA, na Europa, todo mundo quer defender sua economia. Isso é normal e não precisamos encarar isso como se fosse insolúvel.

Cristina, que no início deste mês ampliou a lista de bens brasileiros sujeitos a controles de importação, defendeu as medidas e disse que o Brasil faz o mesmo. A diferença, afirmou, é que as ações brasileiras são menos visíveis, como desvalorização do real e incentivos dos estados às empresas:

- Discussões e diferenças, quando há interesses entre os sócios, sempre acontecem.

Antes de deixar o Brasil, Cristina encontrou-se com o governador de São Paulo, José Serra (PSDB). O tucano, que tem família na Argentina, conversou sobre política, economia, seu exílio e cinema. Ela falou da nova crise com os agricultores, que fecharam a Rodovia do Mercosul. Segundo Serra, Cristina mostrou disposição para chegar a um acordo:

- Sustentei com clareza que as questões comerciais Brasil-Argentina são relativamente secundárias perto de outras, como a da China, por exemplo, que tem um câmbio efetivamente desvalorizado e práticas desleais de comércio.

Ruralistas argentinos iniciam greve de uma semana

Os produtores rurais argentinos anunciaram uma nova greve nacional, a segunda no ano, que durará uma semana e incluirá protestos e bloqueios de estradas em todo o país. Ontem houve 60 manifestações. Os ruralistas querem o fim dos tributos cobrados dos exportadores de grãos (as chamadas retenções, atualmente de 35%).

Cristina negou a possibilidade de eliminar o tributo e anunciou sua decisão de compartilhar seus recursos com as províncias, buscando o apoio de prefeitos e governadores na guerra com o campo. Isso gerou mais críticas dos produtores.

COLABORARAM Tatiana Farah e Janaína Figueiredo, correspondente