Título: O Estado tem feito uma política de aborto
Autor: Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 22/03/2009, O País, p. 12
Assessor da Comissão Vida e Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Luiz Antônio Bento diz que o governo tem feito uma política pró-aborto. Critica o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e o presidente Lula, por ter distribuído camisinhas no carnaval.
Catarina Alencastro
A Igreja condena todo aborto?
PADRE LUIZ ANTÔNIO BENTO: Sim. A Igreja Católica é contrária a qualquer forma de agressão à vida. A missão da medicina é salvar vidas, não matar. É diferente de fazer um aborto terapêutico, como alguns chamam o aborto em casos de anencefalia. É um aborto eugênico, é um aborto para eliminar crianças que têm malformação. Hoje são os anencéfalos, amanhã poderá ser os que têm Síndrome de Down.
No STF, mães de fetos anencéfalos contaram seu sofrimento...
PADRE BENTO: O ministro Marco Aurélio Mello (relator) não foi prudente em dar espaço igual a todos. Se éramos sete contra o aborto, os favoráveis eram 15. Você vê a falta de sensibilidade do ministro. Mães que não abortaram dizem que disseram aos filhos, no momento em que eles viveram: eu te amo, eu te amo. Mães que abortaram não sabem onde estão as crianças. Se o bebê nasce morto, tem direito a um túmulo, um registro e um lugar onde a mãe pode ir visitá-lo. Não acredito que um país que não acaba com o mosquito da dengue consiga dar hospitais a todas as mães que querem fazer aborto. Essa mãe precisa é de orientação espiritual.
O Estado não tem de assistir todas?
PADRE BENTO: Falo de uma política familiar que ajude a formar para o sentido da sexualidade, e não essa depravação que está aí, quando temos um presidente que tem coragem de jogar camisinha para todo mundo. Não é coisa de um chefe de nação. É confrontar valores da sociedade. Quem disse que os valores dele são os de todos? O presidente tem que respeitar valores impregnados na sociedade.
E quem depende do SUS?
PADRE BENTO: Muitas mulheres fazem o aborto em clínicas. O ministro Temporão já disse que sabe quantas clínicas existem. Deveria denunciar. O aborto no Brasil só não está legalizado oficialmente, mas o Estado tem feito uma política de aborto e de amparo às que querem abortar. Se tem um que é fã de que crianças sejam assassinadas no ventre da mãe é o ministro Temporão. Ele é o grande incentivador de uma cultura de morte. Legalizando o aborto, as pobres vão continuar fazendo clandestinamente. Não é verdade que legalizar vai beneficiar os pobres.
O que achou da condenação da Igreja ao aborto feito pela menina estuprada?
PADRE BENTO: A Igreja vai ajudar essa família. Mas a imprensa fica falando só do bispo. Estão usando a menina para criar uma mentalidade abortista. O padre Edson, de Alagoinha, e a comunidade estarão próximos desta mãe. O Temporão vai estar muito longe. Vivo nas periferias. Sei o que passam nos postos de saúde.