Título: Bento XVI: África deve dispnsar nuvem do mal
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Fonte: O Globo, 23/03/2009, O Mundo, p. 18

Em Angola, para mais de um milhão de fiéis, Papa pede pela reconciliação do continente assolado por guerras.

LUANDA. Sob um forte calor, o Papa Bento XVI liderou ontem mais de 1 milhão de fiéis numa missa celebrada ao ar livre na capital de Angola, Luanda, em que pediu para os africanos dispersarem as ¿nuvens do mal¿ que ainda pairam sobre o continente, palco de décadas de guerra civil. O Papa afirmou que a reconciliação africana só virá com uma ¿transformação emocional e uma nova forma de pensamento¿. O evento, realizado na Esplanada de Cimangola, foi o maior liderado pelo Pontífice em sua visita de sete dias à África, que termina hoje.

Papa pede pelas mulheres africanas menosprezadas

A grande missa campal ocorreu um dia depois de um evento num estádio de Luanda, em que duas mulheres morreram pisoteadas ao tentar entrar nos portões para um encontro com Bento XVI. Outras 40 pessoas ficaram feridas na confusão.

¿ Lamento profundamente as mortes, e presto minha solidariedade às famílias das vítimas. Desejo uma recuperação rápida aos feridos ¿ disse.

Ontem, apesar do forte calor, a missa transcorreu sem maiores problemas e sob um forte esquema de segurança. O Pontífice discorreu sobre a história recente de Angola, particularmente sobre os 30 anos da guerra civil (terminada em 2002), que deixou mais de 15 mil mortos desde a independência de Portugal, em 1975.

¿ A experiência angolana é bastante familiar ao resto da África, que sofreu com o poder devastador das guerra civis, em que a maldade e a intolerância dificultaram o esforço de muitas gerações de pessoas boas. Quando a palavra de Deus é negligenciada, quando as leis divinas são ridicularizadas, os resultados só podem ser destruição e injustiça ¿ afirmou.

Depois da grande missa, em que várias pessoas desmaiaram ou passaram mal por causa do calor, o Papa fez um apelo especial pelo respeito ao direito e à dignidade das mulheres africanas, durante um encontro com movimentos católicos para a promoção feminina numa igreja de Luanda.

¿ Há tantas heroínas silenciosas que são as mulheres de Angola e da África, que carregam sobre suas costas o peso da família e da economia rural. A importância da mulher para a família é frequentemente menosprezada ¿ disse o Papa.

No sábado, o Pontífice também havia pedido para que os católicos africanos abrissem mão de práticas como a bruxaria, em que as ¿maiores vítimas são as crianças¿. No continente, é comum o sacrifício de jovens supostamente possuídos por espíritos em rituais de magia.

Bento XVI também condenou a corrupção no continente que, segundo o Vaticano, atrasa os esforços de ajuda à região. Em Angola, um país rico em petróleo, a corrupção é endêmica. A África é o continente onde o número de católicos mais cresce no mundo, e onde historicamente a Igreja esteve ao lado dos colonizadores, inclusive colaborando com o envio de escravos para países como o Brasil.

oglobo.com.br/mundo