Título: Trecho sobre programa nuclear ainda censurado
Autor: Franco, Bernardo Mello; Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 24/03/2009, O País, p. 3

BRASÍLIA. Uma parte do conteúdo das atas do Conselho de Segurança Nacional foi divulgada com tarjas pretas, para preservar o sigilo de informações. Um dos trechos censurados é da ata da reunião realizada em 25 de abril de 1975, quando os militares discutiam detalhes do programa nuclear brasileiro. O então ministro-chefe do Estado Maior das Forças Armadas, general Antônio Jorge Corrêa, argumentava que o programa deveria ser destinado a atender o consumo energético. Quando o militar começa a falar sobre outras finalidades do programa nuclear, o texto é censurado.

Nos círculos militares, sempre se falou do desejo de o país desenvolver a bomba nuclear. Em 1990, o então presidente Fernando Collor foi à Serra do Cachimbo, no Pará, e, em ato simbólico, jogou uma pá de cal num buraco que poderia ser utilizado para experimentos bélicos.

As tarjas também estão em reuniões da época de Getulio Vargas. Em 31 de agosto de 1937, Getulio lamentou a falta de recursos para aparelhar as Forças Armadas, segundo ele em situação "angustiante". Há vários trechos censurados. Em ata de 1939, o presidente discute com ministros que atitude assumir numa guerra. "É necessário encarar a posição do Brasil no caso de uma crise internacional, havendo desde já medidas de ordem econômicas e políticas".

No governo João Figueiredo, o então presidente do Paraguai, Alfredo Stroessner, disse que gostaria que o Brasil reconhecesse a soberania paraguaia sobre a Ilha de Porto Murtinho, na fronteira dos dois países. Na ata, com tarjas pretas, os militares demonstraram receio. O governo temia que, se cedesse, o país ficasse vulnerável a invasões.

Os cortes, que atingiram cerca de 400 páginas, foram decididos pela Comissão de Averiguação e Análise de Informações Sigilosas, coordenada pela Casa Civil. Segundo o general Jorge Armando Félix, do Gabinete de Segurança Institucional, foram censurados trechos com ofensas a outros países, que poderiam abrir crises diplomáticas.