Título: Prefeitos do Nordeste cobram ajuda de Lula
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 24/03/2009, O País, p. 4

Queda de até 70% nos repasses do Fundo de Participação dos Municípios é o principal motivo de reclamações

RECIFE. Apesar de ter minimizado as consequências da crise econômica global no Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve de ouvir muito sobre ela ontem. Em visita a Pernambuco, foi pressionado por prefeitos, que acusaram quedas de até 70% nos repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e se disseram em dificuldades até para honrar a folha de pagamento. Lula prometeu estudar meios de repor perdas, mas deixou claro que ainda não sabe como resolver o problema.

O presidente foi abordado sobre o assunto em duas ocasiões. A primeira, reservadamente, na cidade de Vitória de Santo Antão, a 51 quilômetros de Recife. E a segunda, publicamente, em discurso do prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Elias Gomes (PSDB). Lula esteve na cidade para inaugurar a expansão da linha sul do metrô de Recife. O tucano disse que a cota de FPM de março de 2008 foi de R$1,262 milhão, enquanto no mesmo período de 2009 não passará de R$355 mil.

- Precisamos de uma política tributária que incentive a economia - apelou Gomes.

Lula respondeu com uma promessa:

- À medida que cai a receita do imposto de renda do governo federal, cai também a do estado e a do município. Mas, quando eu retornar a Brasília, vou chamar os ministros da Fazenda e do Planejamento para olhar com carinho essa questão da queda do FPM. Não sei o tanto que a gente pode ajudar, mas vou me interessar pessoalmente por essa questão.

Depois, tentou impor mais uma vez seu otimismo:

- A crise é uma coisa que não me assusta. Vamos derrotá-la com obras. Prefeitos e governadores se preparem porque, na próxima quarta-feira (amanhã), vamos lançar um projeto habitacional de um milhão de casas populares. E a ideia é construí-las em dois anos.

"A crise é uma coisa que não me assusta", diz Lula

De manhã, em entrevista a uma emissora local de rádio, Lula reagiu àqueles que o acusam de ter passado a cuidar da crise muito tarde.

- Vamos enfrentá-la trabalhando. Quanto mais crise, mais trabalho. Quanto mais crise, mais investimento, porque é assim que nós vamos debelá-la. Eles dizem que demorei a enfrentar a crise? Quem falou isso disse uma asneira profunda, porque não há como enfrentar a crise se antes ela não existia. Ela começou nos Estados Unidos, em setembro de 2007, e só chegou aqui em agosto de 2008. Acho que não teve no mundo um governo que tomou tantas medidas com a rapidez e a habilidade que tomamos.

O presidente disse que os problemas serão atacados setor por setor:

- Não queremos pacotes econômicos, daqueles do passado. Porque pacote, quando não dá certo, o povo é que fica no prejuízo.

Em Recife, Lula inaugurou a expansão da linha sul do metrô, obra iniciada há mais de uma década, que teve investimento de R$356 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A estação fica no bairro de Cajueiro Seco, em Jaboatão dos Guararapes, a 18 quilômetros de Recife. O trecho tem 6,2 quilômetros, mas vai operar transportando apenas 10% do total de passageiros previstos. Isso porque falta construir terminais de integração e corredores para ônibus.

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