Título: Gasolina e água não se misturam
Autor: Rodriguez, Eduardo; Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 25/03/2009, Economia, p. 19

Presidente da Petrobras diz que preço do combustível não cairá porque já é baixo.

O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, descartou ontem qualquer redução, a curto prazo, dos preços dos combustíveis no Brasil, argumentando que a gasolina das refinarias brasileiras custa menos do que água. Muito questionado pelos senadores que comandaram audiência pública sobre investimentos da estatal, Gabrielli afirmou que a companhia não aumentou os preços quando a cotação do petróleo disparou no mercado internacional - chegando próximo a US$150 por barril - e, portanto, não deve repassar às bombas a queda recente do produto, cujo barril está custando hoje perto de US$50.

- O preço não vai baixar porque não subiu. O litro da gasolina que sai das refinarias é mais barato que o litro de água engarrafada. O que encarece para o consumidor é a margem de lucro das distribuidoras e os altos tributos - defendeu, na sessão conjunta das comissões de Infraestrutura e de Acompanhamento Econômico.

Porém, uma rápida consulta a supermercados e lojas na internet mostra que o preço da água mineral é mais baixo que o da gasolina. Um litro de água custa entre R$0,79 e R$0,90, dependendo da marca (referência a embalagens de 1,5 litro). Nas refinarias da Petrobras, o litro de gasolina sai por R$1,10, segundo as distribuidoras.

Apesar dos apelos dos parlamentares, Gabrielli garantiu que reajustes só ocorrerão após a estabilização dos preços internacionais.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) questionou os argumentos de Gabrielli, que apresentou tabela mostrando que, em 2008, o preço médio do combustível ao sair das refinarias da Petrobras estava no mesmo nível de países como EUA e China, onde o valor final ao consumidor é menor.

- Eu quero saber é de 2009. Temos hoje uma defasagem gigantesca em relação à média internacional - protestou o parlamentar, que contestou o argumento de que o lucro dos postos é que encarece o combustível, lembrando que a Petrobras Distribuidora, da estatal, é responsável por grande fatia do mercado brasileiro.

Estatal detém 35% da distribuição

A Petrobras Distribuidora detém 35% do mercado nacional de distribuição, e o presidente da empresa, José Eduardo Dutra, também estava presente na audiência pública no Senado. Gabrielli enfatizou que a Petrobras não mudará os rumos de sua política de preços para atender a pressões, pois a empresa ainda estaria se recuperando do prejuízo de não ter aumentado os preços no período em que o petróleo alcançou as alturas.

Hoje, os preços da gasolina pura - sem a adição de 25% de álcool - nas refinarias da Petrobras estão 20% mais elevados do que o cobrado nas refinarias dos Estados Unidos. De acordo com o vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom), Alísio Vaz, no último dia 23, a gasolina estava sendo vendida nos Estados Unidos a R$0,88 o litro, contra o R$1,10 da Petrobras, sem impostos. Reportagem do GLOBO de 18/3 revelou que essa defasagem já chegou a ser de 33% em meados deste mês.

Segundo o vice-presidente do Sindicom, dos R$2,54 pagos, em média, pelos consumidores cariocas pelo litro da gasolina, 40% se referem ao custo do produto, sendo 32% da Petrobras e 8%, o álcool anidro. Os impostos representam 45% do preço final, enquanto as margens da distribuição, revenda e custos de transporte respondem pelos 15% restantes.

Hoje, os trabalhadores da Petrobras entram no terceiro dia de greve e, segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP), a paralisação vai até sexta-feira. No fim do dia, a direção da Petrobras e os grevistas retomaram as negociações. Antes disso, no Senado, Gabrielli afirmou que havia a possibilidade de a companhia aumentar a proposta de participação nos lucros e resultados da empresa (PLR). O valor oferecido, de R$1,3 bilhão, é equivalente a 4% do lucro líquido da companhia, mas não agrada aos grevistas.

Gabrielli garantiu que a paralisação não causou impacto sobre a produção e o fornecimento de combustíveis. Para evitar cortes na atividade, a estatal conta com equipes de contingência. Ontem, segundo a FUP, a adesão à greve foi grande e teria havido redução na produção.

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