Título: PF investiga construtora por fraude
Autor: Freire, Flávio; Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 26/03/2009, O País, p. 3

Diretores da Camargo Corrêa são presos, suspeitos de desviar verba pública para contas no exterior e partidos

Em operação deflagrada ontem pela Polícia Federal, quatro diretores e duas secretárias da empreiteira Camargo Corrêa foram presos, além de quatro doleiros, sob a acusação de desviar verbas de obras públicas para abastecer ilegalmente contas no exterior e campanhas políticas. Segundo o Ministério Público Federal, a quadrilha desviou, desde janeiro de 2008, cerca de R$30 milhões. De acordo com as investigações, parte do dinheiro teria ido para políticos ligados a pelo menos sete partidos: PSDB, DEM, PPS, PSB, PDT, PP e PMDB. O grupo também mandaria dinheiro ilegalmente para contas correntes em paraísos fiscais, como Uruguai, Ilhas Cayman e Suíça.

Em troca da propina, políticos favoreceriam negócios da empreiteira - uma das gigantes do setor - em obras pelo país. Os nomes de dois senadores da oposição, mantidos sob sigilo, foram citados nas conversas.

Superfaturamento em obra de refinaria

Há suspeita ainda de envolvimento de um dirigente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O nome do empresário, citado como um intermediário, é mantido em segredo.

Foram presos na sede da Camargo Corrêa, durante a Operação Castelo de Areia, os diretores Fernando Dias Gomes, Darcio Brunato, Pietro Francisco Bianchi e Raggi Quadra Neto e as secretárias Marisa Berti e Darcy Flores Alvarenga. Três dos doleiros foram presos no Rio de Janeiro - José Dinei Mattos, Jadail Fernandes de Almeida e Maristela Brunet - e um em São Paulo, o suíço Kurt Paul Pickel, naturalizado brasileiro e ex-funcionário de um banco suíço no Brasil.

Todos são suspeitos de evasão de divisas, lavagem de dinheiro, câmbio ilegal, formação de quadrilha e uso de documentos falsos e de laranjas. Somadas, as penas podem chegar a 27 anos de prisão. As detenções foram determinadas pelo juiz da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, Fausto De Sanctis, o mesmo que mandou prender os banqueiros Daniel Dantas e Edemar Cid Ferreira.

A procuradora da República responsável pela investigação, Karen Louise Kahn, disse que uma das obras suspeitas de superfaturamento é a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. A obra, orçada em R$9 bilhões para operação conjunta da Petrobras e da PDVSA (estatal de petróleo da Venezuela), foi visitada pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez.

A investigação sobre partidos e deve seguir para a Justiça eleitoral.

- Esses financiamentos de campanha eram para algum tipo de favorecimento - disse Louise: - A gente não sabe até que ponto o grupo em si está envolvido. Além de ocuparem cargos abaixo apenas da presidência, esses executivos tinham muita autonomia dentro da empresa.