Título: MEC propõe substituir vestibular por novo Enem
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 26/03/2009, O País, p. 8

Ideia do governo é instituir prova única nacional para selecionar alunos de todas as universidades federais do país

BRASÍLIA. O Ministério da Educação (MEC) apresentou ontem a reitores de universidades federais a proposta de substituir os vestibulares tradicionais por um novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A ideia é que um teste único, realizado em todo o país, na mesma data, selecione estudantes para ingresso em qualquer universidade federal, e até mesmo em instituições particulares.

O novo Enem seria formado por uma redação e quatro provas de múltipla escolha: português, matemática, ciências naturais e ciências humanas. A exemplo do Scholastic Assessment Test (SAT), realizado nos Estados Unidos, a pontuação no novo Enem decidiria quem fica com a vaga, em qualquer curso. Além disso, um estudante de Roraima que pleiteasse vaga numa instituição do Rio de Janeiro poderia fazer a prova em sua própria cidade, Boa Vista.

O MEC quer evitar a decoreba e as pegadinhas dos vestibulares, mas não abre mão de cobrar conteúdos do ensino médio. Por isso, o novo exame deverá ter formato intermediário entre o atual Enem, que privilegia a avaliação de habilidades e competências, sem preocupações com os conteúdos do ensino médio, e o vestibular tradicional. A ideia é que o novo Enem ajude a melhorar a qualidade do ensino médio, orientando currículos pelo país afora.

- Queremos que o novo exame corrija as distorções do vestibular e do Enem. Hoje, estamos distorcendo o ensino médio - disse Haddad.

Universidades têm autonomia para decidir

Para virar realidade, o novo sistema dependerá da adesão das universidades. Isso porque elas têm autonomia para estabelecer critérios de seleção. Hoje, em geral, cada instituição promove o próprio vestibular. Muitas já levam em conta os resultados do Enem, mas não há uma regra nacional.

Até segunda-feira, o MEC enviará proposta detalhada à Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), entidade que reúne os reitores das 55 universidades federais. Em 15 dias eles deverão reunir-se para debater o assunto.

Haddad tem pressa e gostaria de ver o novo sistema funcionando já este ano, na seleção dos calouros de 2010. Ele diz que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do ministério, está apto a aplicar o exame. A substituição dos vestibulares pelo teste nacional, portanto, só depende de um pacto político com os reitores.

Para o ministro, é preciso tomar a decisão antes de junho, a tempo de preparar o novo Enem e aplicá-lo este ano. Segundo Haddad, instituições privadas de ensino também poderão aderir. Caso os reitores queiram um prazo de transição, ou tenham receio de uma mudança abrupta, Haddad admite a possibilidade de um teste restrito a uma parcela das vagas ou a certo número de cursos.

- Meu desejo é que fosse de uma vez por todas - afirmou o ministro.

O presidente da Andifes, reitor Amaro Lins, elogiou a iniciativa do MEC, mas disse que é preciso discutir o assunto:

- Não vejo nenhuma objeção para que isso seja feito. Vai necessitar um grande esforço do Inep e do MEC. As universidades ainda não conhecem a proposta.

Amaro Lins é reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ele contou que o mesmo vestibular seleciona os candidatos a três instituições federais de Pernambuco: a UFPE, a Universidade Federal Rural de Pernambuco e a Universidade Federal do Vale do São Francisco.

Outras instituições, como a Universidade de Brasília (UnB), selecionam estudantes pelo chamados programas de avaliação seriados, isto é, testes aplicados durante o ensino médio. Segundo Haddad, esses sistemas poderão conviver com o novo Enem.

O novo teste deverá substituir a prova do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes realizada por calouros e também o Encceja, teste de validação de supletivos.