Título: Construtores apoiam pacote, mas alertam que coordenação é problema
Autor: Paul, Gustavo; Rodrigues, Eduardo
Fonte: O Globo, 26/03/2009, Economia, p. 22

Para especialistas, falta de parceria entre envolvidos pode inviabilizar plano.

BRASÍLIA e RIO. Os construtores brasileiros ficaram satisfeitos com o pacote habitacional lançado ontem, mas não disfarçam a apreensão com a capacidade de sinergia entre os atores envolvidos. Sem a atuação coordenada dos governos federal, estaduais e municipais, a Caixa Econômica Federal, os cartórios e os órgãos de licenciamento ambiental, os empresários temem que o pacote não seja bem-sucedido. Os ingredientes para ele dar certo, porém, estão presentes.

- O conjunto do pacote é abrangente, os gargalos foram atacados e há recursos suficientes. Mas será preciso uma sinergia. Hoje o licenciamento ambiental é um dos grandes entraves - afirmou Roberto Senna, presidente da Bairro Novo, empresa do Grupo Odebrecht.

Um dos principais articuladores do pacote, o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady, lembrou que o momento é histórico para a indústria da construção e que traduz muito do que o setor vinha defendendo. Ele alerta, porém, que outro desafio para o plano dar certo é ter terras suficientes para construir as casas:

- A União tem terrenos suficientes e os estados e municípios também deverão contribuir.

Esse não deverá ser um problema para a Construtora Tenda, voltada ao público de quatro a dez salários mínimos. Segundo seu presidente, Carlos Trostli, seu estoque de terrenos é suficiente para erguer 54 mil unidades nos próximos anos, atendendo parte do público do programa do governo. Para Trostli, o plano é capaz de transformar o setor, mas é fundamental manter a interação entre empresas e governo:

- O pacote funciona e tem de ser operacionalizado pelo governo e pela iniciativa privada. Não existem soluções espontâneas.

Cassio Audi, diretor de Relações com Investidores da Rossi, diz que a participação dos empreendimentos econômicos, com unidades até R$130 mil, vem crescendo na empresa:

- Em 2007, eram 13% do orçamento; no ano passado, 29% e, este ano, o plano era chegar a 50%, mas com o pacote esse número pode ser superado - avisa Cassio, que celebra o fato da regionalização do investimento. - O projeto é ambicioso, o governo precisa pôr energia e foco para que seja efetivo.

Especialistas destacam impacto na economia

Para Luiz Antônio França, presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), o principal ponto do pacote é definir uma política clara para a habitação direcionada à baixa renda:

- Era necessário uma política clara para esse segmento, o que significa subsídio. E isso acontece num momento importante para o país e o setor vai dar um grande reforço ao PIB, estimulando a indústria como um todo - destaca França, que diz estar esperando o detalhamento do pacote até o fim da semana.

O presidente da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústria de Base (Abdib), Paulo Godoy, reforça o fato de que o pacote pode ajudar na recuperação dos setores prejudicados pela crise internacional. Mas a falta de desoneração tributária para materiais de construção frustrou o presidente da Associação das Indústrias de Material de Construção (Abramat), Melvin Fox. Ainda assim, ele garante que não haverá problemas no fornecimento de insumos para a construção das moradias.