Título: Deixe nós, políticos, aparecermos na TV
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 27/03/2009, O País, p. 3

Lula pede discrição e serenidade à Polícia Federal.

BRASÍLIA. Um dia após a Polícia Federal ter deflagrado a Operação Castelo de Areia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou discrição e serenidade da corporação, argumentando que suas operações envolvem a vida de pessoas e que um erro pode ser irreparável. Sem citar nomes, criticou membros da PF, do Ministério Público e do Judiciário que costumam dar muitas entrevistas. Para ele, esse papel cabe melhor a políticos.

¿ A verdade é que nem o Poder Judiciário, nem o Ministério Público nem a Polícia Federal precisam disso. O que vocês precisam é agir com a serenidade que notabilizou a história de vocês, a carreira de vocês, porque, quanto mais vocês agirem assim, mais respeitados vocês serão ¿ afirmou: ¿ Deixe nós, políticos, aparecermos na televisão. Ao participar ontem da comemoração dos 65 anos da PF, Lula disse que o fato de haver mais ações contra corrupção não significa que essa prática aumentou. Ele comparou crimes desse tipo à caspa.

¿ É um contrassenso: quanto mais vocês trabalham, mais aparece denúncia de corrupção na imprensa e mais parece que tem corrupção no país. Não é verdade. A corrupção é uma doença que só aparece quando é combatida, quando não é combatida até parece caspa antes de as pessoas pentearem o cabelo. O ministro da Justiça, Tarso Genro, e o diretor da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, negaram que a Castelo de Areia tenha motivação política: ¿ O que há são dados que constam do inquérito, que serão analisados pelo Ministério Público da Justiça Eleitoral como continuidade do trabalho que foi feito até agora, de mobilização ilegal de recursos. Se tem conotação política ou não, quem vai dizer é a Justiça Eleitoral. Não se faz vínculo com ideologia, programa de partido ou liderança política ¿ afirmou Tarso. Corrêa explicou que a PF abriu uma investigação sobre supostas remessas ilegais da Camargo Corrêa para o exterior e, ao longo da apuração, achou registros de contribuições para campanhas eleitorais. Ele lamentou a entrevista da procuradora da República Karen Kahn, que citou as doações de campanha ainda sob investigação.

¿ A procuradora resolveu falar e, para nossa tristeza, isso (doações para campanha) virou o foco ¿ disse.