Título: Lista associa políticos a quantias
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 27/03/2009, O País, p. 3

Deputados, senadores e funcionários de estatais teriam recebido dinheiro de empreiteira

A Polícia Federal já tem em mãos nomes de políticos e servidores públicos que teriam recebido dinheiro da construtora Camargo Corrêa. A PF investiga agora se os repasses foram feitos ou não em troca de a empresa ser favorecida em projetos para obras em diferentes cidades do país. Nas buscas, os policiais encontraram na casa de um dos diretores da empreiteira preso anteontem, Darcio Brunato, lista com vários nomes de políticos e partidos que estariam acompanhados das quantias distribuídas. A maioria das doações giraria em torno de R$ 100 mil. A PF tem informações de que políticos de pelo menos sete partidos ¿ PSDB, DEM, PDT, PSB, PMDB, PPS e PP ¿ foram diretamente beneficiados. Em meio às investigações, a PF descobriu que haveria um pen drive (cartão de memória) contendo todas as informações na casa de Brunato. Segundo revelado nas conversas telefônicas interceptadas com autorização judicial, os investigados começavam a eliminar provas, e memórias de computadores foram trocadas ao longo das investigações. No entanto, uma planilha com repasses da empreiteira para deputados, senadores e funcionários de estatais revela o destino de parte dos recursos obtidos pela quadrilha supostamente a partir do superfaturamento de obras. A PF estima que pelo menos metade dos cerca de R$ 30 milhões que teriam sido desviados pelo grupo serviram para abastecer campanhas políticas. A planilha, feita em computador, teria anotações a lápis. A procuradora Karen Louise Kahn, responsável pelas investigações, disse ao GLOBO que, nos diálogos, políticos e diretores da Camargo Corrêa falavam em pagamentos ¿por dentro e por fora¿.

¿ Há indícios de que a empresa fazia esses pagamentos (aos políticos) em troca de favorecimento. O dinheiro era distribuído tanto de forma legal, em doações registradas na Justiça Eleitoral, como também por fora ¿ disse a procuradora.

Empresas de fachada no Rio

Em conversa entre o vice-presidente da Camargo, Fernando Botelho, e um dos diretores presos na Operação Castelo de Areia, Pietro Bianchi, há referências a um diretor da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). A PF ainda interceptou, num diálogo entre Bianchi e o diretor Darcio Brunatto, citação ao nome do dirigente da Fiesp, quando é dito que foram pagos ¿300 mil a Agripino e partido¿ e ¿200 a Flexa Ribeiro¿ ¿ referências aos senadores Agripino Maia (DEM-RN) e Flexa Ribeiro (PSDB-PA). O gabinete de Agripino mostrou recibo de doação de R$ 300 mil ao partido, feito de forma legal. Flexa Ribeiro também confirmou a doação e disse que foi legal. Em nota, a Fiesp nega qualquer irregularidade: ¿Embora o meritíssimo juiz da 6aVara Federal tenha, no seu despacho, usado de prudência quando, cautelosamente, fez ressalvas sobre a presença da Fiesp nas investigações, a entidade nega ¿ de maneira enérgica e definitiva ¿ qualquer hipótese de envolvimento em distribuição de dinheiro para funcionários públicos, pagamentos por fora e, muito menos, obtenção de benefícios indevidos em obras públicas. Isso, definitivamente, jamais ocorreu¿. Na linha de investigações sobre supostos crimes financeiros envolvendo a Camargo Corrêa, a PF e a Procuradoria da República descobriram que algumas das empresas de fachada usadas no esquema de remessa ilegal a paraísos fiscais estavam em nome dos doleiros que negociavam com diretores da empresa. Detido por policiais no Rio, o doleiro Jadair Fernandes de Almeida seria o dono da Altercom, usada para enviar recursos ao exterior, inicialmente, em duas remessas, de US$ 200 mil e de US$ 600 mil. As transferências eram feitas em operações de dólar-cabo, em que uma rede de internacional de doleiros executa remessas sem que o dinheiro deixe o país. Cerca de R$ 2 milhões em valores de hoje teriam sido mandados ao exterior desde janeiro de 2008, quando a investigação começou. O elo das operações entre as empresas de fachada seria o doleiro suíço naturalizado brasileiro Kurt Paul Pickel. Pelo menos duas empresas seriam usadas para remeter recursos a paraísos fiscais: a Surpark S/A, que teria sede no Uruguai e filiais das Ilhas Cayman, e a Admaster Serviços Ltda. Sobre a Admaster, o juiz da 6aVara Criminal Federal de São Paulo, Fausto De Sanctis, responsável pelas prisão, observou: ¿Em diligência policial teria sido identificado que seus sócios não possuiriam capacidade financeira compatível com a posse de um estabelecimento comercial e não foram encontrados indícios de atividades empresariais nos endereços onde a mesma deveria existir¿. Outra empresa de fachada usada pelo grupo é o Instituto Pirâmides, instalado num bairro pobre de Saquarema. No endereço que consta na Junta Comercial, funciona um centro educacional e a empresa Transit Assessoria Contábil. O GLOBO esteve em Saquarema e conversou com uma funcionária da empresa, que disse nunca ter ouvido sobre o instituto. Também com atuação no Rio, a doleira Maristela Brunet, presa anteontem, atuaria junto com Jadair no mercado informal de troca de moedas.