Título: Partidos citados ameaçam recorrer ao STF para ter acesso ao inquérito
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 27/03/2009, O País, p. 4

Líderes da oposição afirmam que houve viés político na divulgação da operação

BRASÍLIA. Partidos postos sob suspeita na Operação Castelo de Areia, da Polícia Federal, reagiram ontem e ameaçaram recorrer ao Supremo Tribunal Federal para ter acesso às informações do inquérito sobre a construtora Camargo Corrêa. O DEM e o PPS querem ver os documentos. O argumento é a citação de políticos desses e de outros partidos no despacho assinado pelo juiz Fausto De Sanctis, ao determinar a prisão de alvos da operação. Para líderes da oposição, houve viés político na divulgação dos fatos, com intenção de prejudicar os partidos. O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), disse que o partido recorrerá até ao STF, se preciso, para garantir o direito de defesa. Entre os citados na Castelo de Areia está o líder do DEM, José Agripino Maia (RN). O diretório do DEM-RN, que Agripino preside, recebeu, em setembro passado, uma doação de R$ 300 mil da Camargo Corrêa. Agripino afirmou que a doação foi feita a prefeitos do partido e que é legal. Ele reclamou do envolvimento de seu nome: ¿ A doação foi ao partido que presido, uma doação legal a prefeitos, com recibo. Que doação ao Agripino? Querem denegrir minha imagem e do meu partido? Vamos ao STF para ver se há viés político. Se houver, não hesitaremos em processar. Se formos nos envergonhar do que é legal, esse país acabou. Maia acrescentou: ¿ Não é a primeira vez que uma operação do governo tenta enfraquecer as instituições democráticas, os partidos. O principal foco desta operação é o que vem da Petrobras e essa sociedade de Lula com Chávez (Hugo, presidente da Venezuela) na refinaria (Abreu e Lima) em Pernambuco. A operação desvia o foco para gerar dúvidas em relação aos partidos políticos. Os tucanos também acreditam que houve viés político na divulgação dos primeiros dados da operação.

¿ Só aparece a oposição? A PF é uma instituição séria, competente, mas o sinistro (sic) da Justiça (Tarso Genro) é um homem perigoso, vaza seletivamente ¿ disse o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP). O senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) confirmou que recebeu R$ 200 mil da Camargo Corrêa, em setembro passado, a título de contribuição eleitoral, mas negou irregularidade na transação. Em discurso no plenário do Senado, Flexa criticou duramente o vazamento para a imprensa dos nomes dele e de Agripino. O senador atribuiu a divulgação à PF, que estaria agindo com motivação política.

¿ Não éramos, nem o senador Agripino nem eu, candidatos na eleição de 2008. Apenas presidimos os dois diretórios e, como tal, recebemos a doação legal, prevista pela lei que trata das doações para as campanhas políticas, doações essas feitas da conta bancária da empresa doadora para a conta bancária do diretório estadual do partido, transferidas por TED. Para o PPS, o juiz De Sanctis extrapolou, pinçou frase das escutas telefônicas e usou de uma suposição para atingir os partidos. O líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), negou o viés político e afirmou que ninguém deve politizar o debate.

¿ Não teve vazamento, teve uma decisão judicial e uma prisão judicial. Não quero entrar no mérito, é um problema da Justiça e não da política. Segundo ele, o PT recebeu doações legais da empresa e outros partidos também: ¿ Os que apareceram foram pegos por outra questão, da interceptação telefônica.