Título: Emoção marca a premiação do Faz Diferença
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Fonte: O Globo, 27/03/2009, O País, p. 9

Histórias de luta para vencer dificuldades e poder de transformação pelos livros dão tônica a festa multimídia.

Uma galeria de lutadores, com energia suficiente para mudar destinos e transformar a sociedade, desfilou anteontem pelo palco do Hotel Copacabana Palace. Os contemplados na sexta edição do Prêmio Faz Diferença do GLOBO mostraram que superação e solidariedade são a chave para a mudança. As histórias de cada um poderiam render livros e deram à noite um tom emocionante, sintetizado no discurso do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que recebeu o prêmio de Personalidade do Ano em nome da mulher, a antropóloga Ruth Cardoso, que morreu ano passado.

¿ Ela fez diferença, mas o que faz é falta ¿ disse o ex-presidente, comovido com as experiências vividas pelos ganhadores do prêmio. ¿ Que os livros contem e contem a todos, não apenas para uma elite, que este sentimento republicano, cidadão, genuíno, democrático da Ruth está se generalizando no Brasil. Foi uma noite radiosa. Em meio a trajetórias de dificuldades e percalços, os livros foram protagonistas da festa. Vencedor na categoria Prosa & Verso, Cristovão Tezza se disse feliz por saber que um livro pode fazer diferença no país. Ricardo Gomes Ferraz, o Kcal, que construiu uma ¿livroteca¿ às margens do Rio Capibaribe, falou com orgulho da parceria que está firmando com a prefeitura de Recife e o governo estadual de Pernambuco. Com o apoio, ele comprará mais livros e reformará suas precárias instalações. Mas todos os brasileiros poderão ajudá-lo. Basta colaborar com a campanha ¿Livros que fazem a diferença¿, lançada anteontem pelo GLOBO para receber doações.

¿ Cada livro é uma carta de alforria ¿ disse Ricardo. O premiado na categoria Megazine, Otávio Jr., levou quatro livros ao Copacabana Palace, entre eles ¿O pequeno príncipe¿. Ele é criador de um projeto para apresentar a literatura para crianças dos complexos da Penha e do Alemão. Adailton Medeiros, que fez diferença no cinema em 2008, também levou cultura a uma área desfavorecida ao criar o Ponto Cine, em Guadalupe: ¿ Desejo a todos muito arroz, feijão e cinema.

Festa cheia de surpresas teve até desfile de modelos

Cheia de surpresas, a festa ¿ transmitida pelo GLOBO na internet ¿ teve um tom multimídia, com momentos como o da exibição de um vídeo com a música do grupo inglês Pet Shop Boys em homenagem ao brasileiro Jean Charles de Menezes, assassinado em 2005 em Londres (cujos primos foram premiados na categoria Mundo, por sua luta). Também trouxe ao auditório do Copacabana Palace a voz impactante do barítono brasileiro Paulo Szot, ganhador do prêmio Segundo Caderno/Música, apesar de ele estar em turnê na França. Outra surpresa foi a presença da atriz Cláudia Raia, que homenageou João Emanuel Carneiro, autor da novela ¿A Favorita¿, vencedor na Revista da TV. Já a premiação do estilista mineiro Ronaldo Fraga (ELA) trouxe glamour ao palco: oito modelos desfilaram a coleção que ajudou a organizar com tecelãs de várias partes do Brasil. A emoção uniu universos distintos. Assim como Fernando Henrique e os netos de Ruth Cardoso, que se emocionaram durante a homenagem, Márcia de Oliveira Jacinto, mãe do estudante Hanry Silva Gomes de Siqueira, assassinado em 2002, embargou a voz ao lembrar da maior perda de sua vida. Ambos foram aplaudidos de pé. Os colunistas Míriam Leitão e Ancelmo Gois, que apresentaram a cerimônia, também se emocionaram com uma das muitas histórias de superação da noite.

¿ É muito difícil uma mãe esperar seu filho para ir para a escola, encontrá-lo no outro dia no IML e ter que lutar para provar que ele não era um criminoso. Mas eu venci ¿ disse Márcia. Alex Pereira, um dos primos do brasileiro Jean Charles, desabafou sobre a vida dos imigrantes ao receber o prêmio na categoria Mundo: ¿ Muita gente deixa de gritar quando sente dor, pelo fato de ser um estranho no ninho como imigrante. Hoje, graças a Deus, isso está fazendo a diferença para o Brasil e os brasileiros que moram no exterior.

Quem roubou a cena ao subir ao palco com a mãe, a atleta Maurren Maggi, vencedora na categoria Esportes, foi a pequena Sophia, de 4 anos. Com a medalha de ouro conquistada pela mãe nas Olimpíadas de Pequim no peito, a menina deu a mão a Ancelmo Gois e se agarrou a Míriam Leitão. Na plateia, artistas como Ary Fontoura e Milton Gonçalves se misturavam a autoridades. O clima de confraternização uniu os governadores de São Paulo, José Serra (PSDB), de Sergipe, Marcelo Déda (PT), de Minas, Aécio Neves (PSDB) e o governador em exercício do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB). Aécio e Serra, que travam queda de braço no partido em torno da sucessão presidencial, em 2010, conversavam amigavelmente. Serra elogiou o espírito da premiação: ¿ O Brasil homenageou o melhor de si mesmo, que anda em baixa nos últimos tempos. O tom foi semelhante ao usado por Aécio, que passou grande parte do coquetel conversando com Déda: ¿ O Brasil vive das pessoas que fazem diferença. Este prêmio é um exemplo, porque premia também anônimos, não só aqueles que estão na mídia. É um estímulo ao pequeno gesto. Se para alguns a crise financeira é um obstáculo, para o engenheiro Paulo Veras, do Instituto Endeavor, este é o momento certo para empreender. Ele está convencido de que o empreendedorismo é uma espécie de ¿motor de avanço da sociedade¿, porque ¿gera oportunidades e empregos¿.