Título: Taxa de empréstimos volta a nível pré-crise
Autor: Duarte, Patrícia; Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 27/03/2009, Economia, p. 21

Juro médio a pessoa física ficou em 52,7% ao ano em fevereiro. Volume diário de financiamentos cresceu.

BRASÍLIA e RIO. O mercado de crédito brasileiro começa a dar sinais de normalização após os meses que marcaram o agravamento da crise internacional. Segundo números do Banco Central (BC) divulgados ontem, os juros cobrados dos consumidores pelas instituições financeiras voltaram aos níveis anteriores à explosão da turbulência, quando os bancos elevaram a diferença entre o que pagam para captar e o juro que cobram ao emprestar (spread). Após cair 2,4 pontos percentuais em fevereiro, a taxa média em empréstimos a pessoas físicas ficou em 52,7% ao ano, contra 53,1% em setembro de 2008. Com isso, o número diário de financiamentos às famílias cresceu 6,8% no mês passado, para R$ 2,504 bilhões. Para o BC e a federação dos bancos (Febraban), a redução das margens dos bancos foi determinante para a queda dos juros em fevereiro. O spread das pessoas físicas recuou 2,1 pontos no mês (para 41,5 pontos), e o das jurídicas, 0,1 ponto (para 18,9 pontos). O movimento também reflete a expectativa de queda da Selic (juro básico da economia). Um levantamento parcial de março mostra que, até o dia 16, a média dos juros cobrados das famílias caiu mais 1,1 ponto percentual, e para as empresas, 1,6 ponto.

¿ Houve continuidade na redução dos juros. As taxas recuaram bastante, para patamares anteriores à crise ¿ comemorou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. Para as indústrias, a taxa média caiu apenas 0,2 ponto percentual em fevereiro, para 30,8% ao ano, taxa ainda maior que no início da crise. O volume diário de empréstimos subiu 8,3%, para R$ 4,356 bilhões. Os níveis de inadimplência ¿ pagamentos atrasados há mais de 90 dias ¿ continuaram em alta: cresceram 0,3 pontos percentuais para empresas, de 2% para 2,3%, o maior valor desde agosto de 2007. Entre famílias, cresceu 0,1 ponto, a 8,3%, a maior alta desde maio de 2002.

¿ A elevação dos spreads no fim do ano passado já levava em conta esse risco. Daqui para a frente, a tendência é mesmo de redução dos juros ¿ disse o economista-chefe da Febraban, Rubens Sardenberg. O volume de empréstimos também subiu: 17,2% no mês, para R$ 492 milhões diários, o melhor resultado desde junho do ano passado. Para empresas, as linhas de capital de giro e conta garantida cresceram 5,9% e 8,7%, respectivamente. Até o dia 16, o volume diário de empréstimos ¿ desconsiderados créditos direcionados e para aquisição de veículos ¿ subiu 0,9% frente aos primeiros 11 dias úteis de fevereiro. A oferta de crédito nos últimos 12 meses representou 41,6% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país).

Bovespa sobe 1,89%, puxada por ações de siderúrgicas

A elevação dos níveis de inadimplência derrubou as ações ligadas ao varejo na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Entre as maiores quedas estiveram os papéis ordinários (ON, com direito a voto) da B2W (holding que controla a Americanas. com e o Submarino), com perdas de 4,4%. As ações preferenciais (PN, sem direito a voto) das Lojas Americanas recuaram 2,4% e as do Pão de Açúcar, 1,8%. Ainda assim, a Bolsa encontrou fôlego para fechar em alta de 1,89%, aos 42.588 pontos. O principal motivo foi a melhora de humor com uma redução menor que a esperada do PIB dos Estados Unidos no último trimestre de 2008. Também contribuiu uma nota divulgada no site do Banco Central da China em que o presidente da instituição, Zhou Xiaochuan, disse que já há sinais de recuperação da economia do país. As siderúrgicas se destacaram. As ações ON da Usiminas subiram 8,6%. As PN da Gerdau metalúrgica ganharam 7,8% e as da Vale, 2,24%.

¿ As ações das siderúrgicas foram as primeiras que refletiram a crise, com empresas cortando custos e produção. Agora, elas estão reagindo porque já caíram muito ¿ avaliou Eduardo Roche, gerente de análises do Modal Asset.