Título: Socorro a bancos pequenos
Autor: Duarte, Patrícia; Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 27/03/2009, Economia, p. 21

Aplicação até R$ 20 milhões em instituições menores terá garantia. Medida injeta R$ 40 bi.

O Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou ontem o uso do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) ¿ mecanismo que cobre depósitos do sistema financeiro ¿ para afiançar integralmente títulos que os bancos poderão emitir para captar recursos. Voltada às pequenas e médias instituições, a medida deverá permitir a injeção de R$ 40 bilhões no mercado, incentivando a expansão da concessão de crédito, especialmente nos nichos onde são mais fortes. É o caso do financiamento de pequenas e médias empresas e de veículos usados. A iniciativa é a primeira de um pacote maior que está sendo preparado pela equipe econômica para reduzir os spreads bancários ¿ diferença entre o custo de captação e a taxa efetivamente cobrada ao consumidor final. Entre outras, está sendo avaliada a possibilidade de novas desonerações das operações de crédito.

¿ As medidas visam a dar condições aos bancos menores de voltarem a competir agressivamente, colaborando para a baixa dos spreads ¿ afirmou o presidente do BC, Henrique Meirelles. Atualmente, bancos pequenos e médios estão com dificuldades de captação. Mas, com a garantia integral do FGC, o Banco Central (BC) acredita que os investidores serão incentivados a comprar os papéis. Isso porque a medida permite que o FGC proteja as emissões de títulos dos bancos, uma espécie de Recibo de Depósito Bancário (RDB). Cada banco poderá emitir o equivalente a duas vezes seu patrimônio, com teto de R$ 5 bilhões, conforme antecipara O GLOBO, enquanto os investidores poderão desembolsar até R$ 20 milhões, com proteção integral do FGC.

Ações têm forte alta na Bovespa

Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o potencial total chega à casa dos R$ 170 bilhões.

¿ Esses bancos menores voltarão a captar e a oferecer crédito ¿ afirmou Mantega, referindo-se à falta de liquidez originada pela crise que pegou em cheio essas instituições. No mercado, as medidas foram bem recebidas. O economista da consultoria Lopes Filho, João Augusto Frota, diz que os R$ 40 bilhões deverão ser suficientes para resolver o problema dos bancos menores, cuja carteira de crédito está em declínio. Hoje, segundo ele, a carteira está em torno de R$ 100 bilhões. Em setembro, antes do agravamento da crise global, era de R$ 120 bilhões. Ontem, as ações de bancos pequenos foram destaque na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Os papéis ordinários (ON, com direito a voto) do BicBanco subiram 13,6%. Já as ações preferenciais de Daycoval e Panamericano ganharam 7,74% e 4,73%, respectivamente. Segundo o economista-chefe da corretora Gradual, Pedro Paulo Silveira, os bancos de maior porte vinham pagando taxas muito altas para captar no mercado, em torno de 110% do CDI (taxa que segue o juro básico da economia e é referência dos empréstimos interbancários). Já os pequenos bancos enfrentavam a desconfiança do investidor, que duvidava de sua capacidade de pagamento.

¿ A capacidade de financiamento deles vai aumentar, e eles conseguirão operar com um maior nível de atividade. Além disso, o custo de captação vai cair porque o risco passa a ser o limite do fundo garantidor, e não mais o risco privado do banco ¿ complementou. Apesar dos esforços para derrubar spreads, o CMN decidiu ontem manter a TJLP em 6,25% ao ano.