Título: Argentina antecipa eleições
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 27/03/2009, O Mundo, p. 30

Casal K vence embate com oposição para renovar Congresso e aumenta chance de ficar no poder.

Néstor e Cristina Kirchner respiraram aliviados ontem. O Senado argentino deu sinal verde ao projeto de antecipação das eleições legislativas (será renovada a metade da Câmara e um terço do Senado), que finalmente serão realizadas no próximo dia 28 de junho. Depois de um dia inteiro de debates, o governo venceu a queda-de-braço com a oposição, por 42 votos a favor (eram necessários 37 votos) e 26 contra. A vitória, porém, foi polêmica. Um dia antes da votação, dois senadores do ARI, partido aliado à ex-candidata presidencial Elisa Carrió, confirmaram seu respaldo ao projeto da Casa Rosada. Os congressistas pertencem à tropa da governadora da província de Terra do Fogo, Fabiana Rios, que, segundo denunciaram parlamentares da oposição, foi obrigada a apoiar a iniciativa kirchnerista para continuar recebendo recursos do Estado nacional, sem os quais não poderia sequer pagar os salários provinciais. A senadora Hilda ¿Chiche¿ Duhalde, mulher do ex-presidente Eduardo Duhalde, acusou o governo nacional de ¿fazer reféns governadores, prefeitos e congressistas¿.

¿ O governo montou um sistema perverso ¿ lamentou Chiche.

Tentativa de evitar desgaste com a crise

Durante o debate, a oposição questionou duramente o governo Kirchner.

¿ A Casa Rosada está criando um novo fator de conflito no país, para quê? Agora ninguém vai pensar mais em como impedir uma crise econômica, o governo só pensará na campanha ¿ declarou o senador Gerardo Morales, da União Cívica Radical (UCR). Morales aproveitou a sessão para exigir que a agenda parlamentar não seja imposta pela Casa Rosada e mencionou uma série de questões que, segundo o senador opositor, deveriam ser tratadas pelo Congresso: a manipulação das estatísticas oficiais do país, o aumento da violência, as constantes mudanças de regras de jogo que afetam a democracia e afastam os investimentos e até mesmo uma grave epidemia de dengue nas províncias do norte argentino, entre outros.

¿ A eleição não deveria ser a prioridade do governo, temos problemas gravíssimos e o governo não está atuando ¿ enfatizou Morales. Quando anunciou o envio do projeto ao Congresso, a presidente argumentou que, em momentos de crise mundial, seria ¿suicida¿ estar em campanha eleitoral até outubro. A data original era 28 de outubro. No entanto, na visão de analistas locais, o principal objetivo do casal K é evitar que o desgaste provocado pela retração da economia acabe provocando uma derrota eleitoral, que praticamente eliminaria qualquer possibilidade de um triunfo nas eleições presidenciais de 2011. Dirigentes da Frente para a Vitória (FPV, sublegenda do Partido Justicialista liderada por Kirchner) admitiram que a eleição será um plebiscito para o casal K.

¿ Vamos poder fazer um plebiscito sobre nosso governo. Para os que dizem que está tudo errado, vamos ver o que dizem as urnas ¿ disse a senadora Nanci Parrilli. Dirigentes de movimentos sociais aliados ao casal K chegaram a dizer que uma derrota nas eleições legislativas poderia antecipar o fim do governo de Cristina.

¿ Se não obtivermos o respaldo popular, entregaremos o governo e que governem Cobos (o vice-presidente Julio Cobos) e (o grupo) Clarín ¿ assegurou o piqueteiro (integrante de um movimento de desempregados) Emilio Pérsico. A declaração de Pérsico, que costuma frequentar a residência oficial de Olivos, foi desmentida por autoridades do governo. ¿O que foi dito por Pérsico reflete o mais genuíno pensamento de Kirchner¿, opinou o jornal ¿Perfil¿.

¿Agora ninguém vai pensar mais em crise econômica, o governo só pensará na campanha" Gerardo Morales, senador da UCR