Título: Sarney nega ajuda de diretora: perguntem a ela
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 28/03/2009, O País, p. 4

Para presidente da CCJ, porém, ela pode responder a processo por improbidade

BRASÍLIA. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), mostrou irritação ao ser perguntado ontem sobre a participação da diretora de Comunicação Social da Casa, a jornalista e advogada Elga Mara Teixeira Lopes, em sua campanha à reeleição, no Amapá, em 2006. Sarney sugeriu que a pergunta fosse dirigida à funcionária. Mas Elga, como na véspera, não apareceu no Senado. A direção da Casa não se manifestou sobre a conduta de Elga, que tem acumulado as funções de diretora com trabalhos em campanhas políticas. A servidora, que já ocupou outras diretorias na Casa por indicação de Sarney, também não se manifestou.

Outras pessoas confirmaram a informação do GLOBO de que ela acumulou funções.

¿ Perguntem a ela. Para mim, ela não fez campanha política.

No que se refere a ela estar na minha última campanha, é totalmente errado ¿ disse Sarney.

Depois da publicação da negativa de Sarney no GLOBO na internet, ontem, pessoas que trabalharam na campanha do Amapá, em 2006, entraram em contato com O GLOBO para reafirmar as denúncias feitas na véspera, entre outras fontes, pelo coordenador dos programas de TV das campanhas dos Sarney, Ricardo Soares. Ontem, um conterrâneo de Elga, o baiano Chico Bruno, que trabalhou na campanha do governador Waldez Gois (PDT) ¿ que fez dobradinha com Sarney ¿, contou que a diretora ficara hospedada no Macapá Hotel e comia diariamente, com a equipe da campanha, na Peixaria Amazonas.

Assessoria de Sarney diz que trabalho foi informal Segundo Bruno, Elga foi chamada por Sarney quando ele enfrentava dificuldades na disputa com a socialista Cristina Almeida: ¿ Ela ficou lá quase setembro todo. A Elga deixou a campanha do Delcídio Amaral para o governo de Mato Grosso do Sul e foi socorrer o Sarney.

À tarde, o assessor de imprensa do gabinete da presidência do Senado, Chico Mendonça, disse que Sarney falou a verdade, e que Elga esteve no Amapá por poucos dias, sem contrato.

¿ A Elga não foi contratada.

Foi lá dar uns palpites sobre pesquisa, uma contribuição informal. Mas não trabalhou na campanha. Como ela tem uma relação de amizade com Sarney, foi lá, mas não como contratada, não recebeu.

¿Não exista licença para cargo comissionado¿ Roseana Sarney (PMDB-MA) enviou carta ao GLOBO negando a participação de Elga em sua campanha. Foi a servidora, porém, que admitiu ter ido a São Luís para ¿dar palpites¿ na campanha da senadora ao governo do Maranhão, em 2006. Informação confirmada por Ricardo Soares, coordenador dos programas de TV e integrante da equipe de André Torreta.

¿É inverídica a afirmação de que a funcionária Elga Mara Teixeira Lopes tenha trabalhado em minha campanha ao governo do estado do Maranhão no primeiro e/ou no segundo turno.

A coordenação dos meus programas de televisão no primeiro turno foi do publicitário Cícero José da Silva e de rádio, de Antônio Martins. No segundo turno, a coordenação de TV ficou com o publicitário André Torreta e a de rádio permaneceu com Antônio Martins¿, diz Roseana.

O presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), senador Demóstenes Torres (DEMGO), disse que, se for comprovado que a ex-diretora de Modernização Administrativa e agora diretora de Comunicação não trabalhou na Casa nos períodos em que esteve atuando em campanhas, a primeira providência será pedir a devolução do dinheiro recebido: ¿ Não existe licença para cargo comissionado. Se fosse um servidor efetivo, caberia sindicância interna passível de demissão.

No caso do conflito de interesses de um servidor com cargo de mando, a serviço de senadores que o empregam, o Ministério Público pode abrir um processo por improbidade.