Título: PF pedirá apoio estrangeiro para investigação
Autor: Barbosa, Adauri Antunes; Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 30/03/2009, O País, p. 4

SÃO PAULO. A Polícia Federal e o Ministério Público Federal devem solicitar a colaboração de autoridades financeiras do Uruguai e do Peru para apurar o modo de operar de funcionários da empreiteira Camargo Corrêa e de doleiros acusados de enviar ilegalmente recursos ao exterior.

A informação, confirmada ontem por uma fonte da PF, já havia sido mencionada pela procuradora da República Karen Louise Jeanette Kahn, responsável no Ministério Público Federal pela Operação Castelo de Areia. Em entrevista sobre as investigações do MPF, na semana passada, Karen Kahn já havia apontado para a possibilidade de pedir ajuda às autoridades peruanas e uruguaias.

No relatório de conclusão da Justiça Federal sobre as investigações, assinado pelo juiz Fausto Martin De Sanctis, consta que a PF interceptou documento utilizado pelos supostos doleiros Jadair Fernandes e Almeida e José Diney Matos, que comprovariam a remessa de US$ 810 mil da Camargo Corrêa para o exterior.

Segundo o relatório, ¿há sérios indícios no sentido da perpetração de operações referentes ao envio ilegal de remessa de valores ao exterior por Diney e Jadair para o Grupo Camargo Corrêa, bem ainda de eventual delito de lavagem de dinheiro inclusive através da utilização de supostas empresas de fachada¿. Ainda conforme o documento assinado pelo juiz, foi verificada uma remessa de US$ 800 mil a uma empresa de fachada que teria operações no Peru e no Uruguai.

Doleiro apontado como mentor se recusou a depor Diney e Jadair ¿ presos na semana passada no grupo de dez suspeitos de participar do esquema de crimes financeiros, fraude a licitações públicas e superfaturamento de obras durante a Operação Castelo de Areia, do qual faziam parte quatro diretores e duas secretárias da construtora Camargo Corrêa ¿ foram libertados anteontem, depois de habeas corpus concedido pela desembargadora Cecília Mello, da 2aTurma do Tribunal Regional Federal (TRF) da 3aRegião. Antes de libertá-los, a PF indiciou os dez acusados por lavagem de dinheiro, evasão de divisas, câmbio ilegal e formação de quadrilha.

A cooperação internacional, de acordo com a PF, seria fundamental para mostrar os mecanismos utilizados pela organização criminosa para a prática dos crimes financeiros.

No relatório, a PF afirma que as ações do grupo acusado buscariam legalizar as transações financeiras no exterior, através de supostos pagamentos a fornecedores. O segundo passo seria pulverizar os valores fora do Brasil.

Outro doleiro, Kurt Paul Pickel, também foi preso na semana passada pela PF e libertado no sábado. Ele é apontado pela PF como o ¿mentor intelectual¿ do esquema. O advogado do doleiro, Alberto Zacharias Toron, afirmou ontem que se reunirá com seu cliente amanhã para definir a estratégia da sua defesa. Segundo ele, Pickel se recusou a depor na PF porque não teve conhecimento das acusações. Torno disse ainda que sua equipe estuda os autos do processo, e que o trabalho para ler os relatórios e ouvir as escutas deverá demorar de 15 a 20 dias.

¿ Vamos estudar as informações do inquérito policial ¿ disse o advogado, lembrando que a investigação reúne material acumulado em mais de um ano