Título: Newton Cruz reclamou de investigações do Proconsult
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 29/03/2009, O País, p. 3

Não há provas, porém, de que SNI tenha tentado fraudar eleição de Brizola BRASÍLIA. Perdido nos arquivos do Serviço Nacional de Informações (SNI), um bilhete escrito à mão pelo general Newton Cruz revela que a ditadura tentou intervir nas investigações do escândalo da Proconsult, que marcou a eleição do ex-governador Leonel Brizola em 1982. Símbolo da linha dura dos quartéis, o general recorreu ao então procurador-geral da República, Inocêncio Coelho, para reclamar da atuação do Ministério Público.

Os papéis não permitem concluir se o SNI tentou fraudar o resultado para impedir a eleição de Brizola, como diziam os pedetistas.

Newton Cruz chefiava a agência central do órgão, em Brasília. Em 24 de fevereiro de 1983, ele enviou a Coelho um relatório com duros ataques aos procuradores e promotores eleitorais que investigavam a Proconsult, contratada pelo Tribunal Regional Eleitoral para totalizar os votos no Rio. Segundo os arapongas, o MP estaria determinado a desmoralizar o SNI e a Polícia Federal, que arquivou o inquérito sem qualquer indiciamento.

O documento faz críticas ao então chefe da Procuradoria da República no Rio, Carlos Roberto Siqueira Castro: ¿À sanha dos chefes da Procuradoria Regional da República contra o governo e a Revolução não escapa a figura respeitável do presidente Figueiredo¿.

O procurador, que na época tirou o retrato de Figueiredo de sua sala, é descrito como ¿um servidor sem expressão, morbidamente vaidoso, que busca a notoriedade através de atitudes de flagrante desrespeito às instituições e às autoridades constituídas¿.

Os ataques foram endossados por Cruz: ¿Subscrevo-o inteiramente¿, anotou no bilhete.

¿ Ouço isso com muita honra. As denúncias impediram uma fraude para desviar votos do ex-governador Brizola ¿ diz Siqueira Castro, professor da Uerj e sócio de um dos maiores escritórios de advocacia do país.

Os arquivos do SNI não apontam vínculos entre o órgão e a Proconsult, que tinha um tenente-coronel do Exército como diretor de computação. O procurador diz que a fraude ficou comprovada, mas não foi possível apontar o envolvimento direto de agentes da ditadura. O genro de Cruz informou que o general se recupera de uma cirurgia e não poderia falar.