Título: Dirigente do Senado interferia nas contratações
Autor: Vasconcelos, Adriana; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 29/03/2009, O País, p. 9

Carlos Muniz já teve nomeação barrada por denúncias. BRASÍLIA. Luiz Fernando Petri Rodrigues da Cunha, um ex-servidor terceirizado do Senado, que era contratado pela empresa Montana, afirma que o diretor Carlos Muniz exerce interferência direta nas contratações das empresas que prestam serviço à área de Telecomunicações. Entre elas a própria Montana, que teve seus últimos cinco pagamentos bloqueados por atrasos no recolhimento de INSS e FGTS de seus funcionários. A demissão de Luiz Fernando teria sido determinada por Carlos Muniz depois que o terceirizado denunciou a empresa prestadora de serviço ao Senado à Delegacia Regional do Trabalho (DRT).

O Ministério Público do Trabalho investiga o caso.

¿ Quando ameacei pela primeira vez denunciar a Montana à DRT, fui chamado pelo Carlinhos e pelo gestor do contrato, Jeová (Dantas de Jesus). Os dois me pressionaram para não fazer isso, alegando que a Secretaria de Telecomunicações não poderia se envolver em outro escândalo ¿ contou Luiz Fernando.

Ano passado, as instalações da Setele foram submetidas a uma varredura da Polícia Federal, que buscava indícios de que teria sido feito ali o grampo que gravou conversa entre o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEMGO).

Muniz nega as suspeitas.

Funcionário de carreira do Senado há 34 anos ¿ foi beneficiado pela incorporação, em 1978, de todos os servidores ao quadro permanente ¿, Muniz assumiu cargo de direção pela primeira vez em 2004, na segunda gestão de José Sarney (PMDBAP) na presidência. A primeira investida num cargo de direção, porém, foi registrada quando o hoje deputado Mauro Benevides (PMDB-CE) presidiu a Casa (1991-1993). À época, a nomeação para diretor de Patrimônio já estava assinada, mas foi revogada quando Benevides soube que o indicado era conhecido como ¿Carlinhos 10%¿.

¿ Fizeram denúncias, mas era maldade, porque eu era amigo do filho do senador Benevides.

Pedi para não ser nomeado.

Nunca fui gestor de contrato ou participei de licitação ¿ disse.

Com um salário líquido de R$ 18 mil, segundo ele reforçado pelos vencimentos da mulher (R$ 9 mil), Muniz é dono de uma mansão no Lago Sul, bairro nobre da capital. Tem ainda apartamento de três quartos, onde mora com a mulher e três filhos, no Plano Piloto. Diz que a casa está em seu nome e registrada no Imposto de Renda. Cercada de câmeras, com elevador e jardim, a casa estaria, diz, vazia: ¿ Minha mãe é aposentada do Senado. Dos R$ 12 mil que ganha por mês, bota R$ 6 mil na minha conta. Não consegui terminar a obra. Será que depois de 34 anos de Senado eu não teria condições de construir uma casa como essa?