Título: Três andares só para abrigar central telefônica
Autor: Vasconcelos, Adriana; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 29/03/2009, O País, p. 9

Prédio, erguido na gestão do ex-diretor-geral Agaciel Maia, deu impulso à carreira de servidor que hoje comanda telecomunicações.

BRASÍLIA. A falta de transparência e controle sobre o que aconteceu no Senado nos últimos 14 anos, período em que Agaciel Maia ocupou a diretoria geral da Casa, produziu uma série de distorções e absurdos, mostrando a falta de cerimônia na hora de gastar dinheiro público.

Foi esse quadro que levou a instituição, por exemplo, a construir um prédio de três andares, com uma área de 1.380 metros quadrados, para abrigar sua central telefônica. E que deu impulso à carreira do atual diretor da Secretaria de Telecomunicações (Setele), Carlos Roberto dos Santos Muniz, mais conhecido na Casa como Carlinhos.

Número de funcionários passou de 42 para 102 A obra foi erguida há mais de dez anos, a pedido do então chefe de serviço da Setele, hoje diretor do setor, e custou na época R$ 1,3 milhão, mais de R$ 2,5 milhões em valores atualizados.

Até então, a central e a área administrativa da secretaria funcionavam em oito salas num dos subsolos da Casa, dividindo o espaço com a garagem privativa dos senadores. Com a mudança, o número de funcionários do setor mais do que dobrou: subiu de 42 para 102.

Apesar da imponência das instalações, a central telefônica ¿ mesmo operando com 4.800 ramais, quase dez vezes mais do que os 500 usados até 1998 ¿ ocupa apenas parte da área térrea do prédio, onde também funcionam copa, recepção, área de telex e setor de celulares.

O primeiro andar, com salas bem mais espaçosas, foi reservado à área administrativa da Secretaria de Telecomunicações e aos gabinetes dos dois diretores da área. Parte do subsolo abriga os carros que atendiam, até semana passada, os diretores da Secretaria de Telecomunicações.

A mordomia foi suspensa por ordem da 1asecretaria.¿ Quando foi para construir o prédio, estávamos num buraco, debaixo da rede de esgoto das águas pluviais, e havia o risco de perder equipamentos e dados se estourasse um cano.

Eu pedi ao então presidente, Antonio Carlos Magalhães, que mandasse fazer uma vistoria, e todo o projeto do novo prédio foi feito com base em estudos técnicos da Telebrás ¿ justifica Carlinhos.

Foi com um outro pedido que ele conseguiu que o Senado requisitasse sua mulher, Aline Diniz, funcionária do Superior Tribunal de Justiça, para trabalhar na Casa por mais de um ano.

¿ Eu pedi na época do presidente Renan. O (setor) financeiro não tinha um contador, e ela foi requisitada para cuidar de Imposto de Renda ¿ disse, sem explicar como, num efetivo de cerca de 9 mil funcionários, não havia um contador.

A devolução de Aline Diniz ao STJ só ocorreu em novembro, com a lei antinepotismo.