Título: Lula diz não entender polêmica sobre olhos azuis e agora ataca yuppies
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 29/03/2009, Economia, p. 33

Lula diz não entender polêmica sobre "olhos azuis" e agora ataca "yuppies"

Presidente afirma que especulação gerou bônus para jovens de 30 anos bem formados

VIÑA DEL MAR, Chile. Dois dias depois de declarar que os culpados pela crise mundial são ¿brancos de olhos azuis¿, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, no encerramento da Cúpula de Líderes Progressistas, no Chile, que a especulação financeira que gerou a crise trouxe lucros para ¿yuppies de 30 anos¿ que não sabem nem sequer onde ficam os países sobre os quais opinam. Perguntado sobre a polêmica dos ¿olhos azuis¿, Lula se disse surpreso e explicou que falava dos imigrantes que trabalham na Europa e devem perder seus empregos por causa da crise.

¿ Isso (especulação) gera bônus para um monte de especuladores, quase todos jovens yuppies de 30 anos que viviam dando palpites nas nossas economias.

Eu ia fazer debates em Londres ou Nova York e juntava um tanto de economistas para debater comigo. Aqueles jovens bem formados dando palpite sobre a Bolívia e nem sabiam onde fica a Bolívia ¿ reclamou Lula.

O termo yuppie foi criado nos anos 80 para rotular jovens profissionais urbanos (young urban professionals, yup, em inglês) bem-sucedidos em carreiras como as do mercado financeiro, em contraponto aos hippies dos anos 60.

Antes de voltar para o Brasil, o presidente disse não entender a polêmica sobre os ¿olhos azuis¿. Segundo ele, é evidente que os imigrantes latino-americanos, asiáticos, africanos e do leste europeu serão as primeiras vítimas da crise, gerada pelos países desenvolvidos.

¿ Não sei por que gerou polêmica. Eu estava falando da perseguição aos imigrantes nos países europeus. Acompanho pela imprensa todo dia. Quem vai ser mandado embora são os latino-americanos que trabalham lá, os membros da Europa Oriental, os indianos, os africanos.

Não é possível que os pobres do mundo, que não têm nada a ver com esta crise, paguem o preço de algo causado pelos ricos ¿ disse Lula.

Citando os líderes do primeiro mundo participantes da cúpula, Lula evocou o direito de cobrar dos países ricos soluções para a crise e disse que economias como a do Brasil não esperam ajuda alguma.

¿ Não estamos aqui chorando e dizendo ¿Gordon Brown (primeiro-ministro britânico), o Brasil precisa de dinheiro¿. Não estamos pedindo nada. Queremos apenas normalizar a economia mundial e o crédito. Se estiver normalizada, seguiremos em frente ¿ cobrou Lula.

EUA não quiseram assinar documento do encontro Pouco depois, em outra entrevista, o presidente disse que desta vez os países da América do Sul não foram pegos ¿nus¿ como em outras crises.

A cúpula reuniu Lula, Brown, os primeiros ministros da Noruega, Jens Stoltenberg, e Espanha, José Luiz Zapatero, os presidentes do Uruguai, Tabaré Vazques, e Argentina, Cristina Kirchner, além da anfitriã Michelle Bachelet e do vice-presidente dos EUA, Joe Biden.

A ideia era que os participantes assinassem um comunicado conjunto condenando o protecionismo econômico, mas foi barrada pelos EUA. A explicação oficial foi que Biden, por ser apenas o vice, não poderia assinar um documento sem consultar o presidente Barack Obama, o que seria inviável.

Nos bastidores, o que se comentou é que, na verdade, o governo dos EUA não quer se comprometer com o fim das barreiras comerciais para evitar mais atritos no Congresso.