Título: Analistas elogiam protagonismo
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 15/03/2009, Mundo, p. 18

BRASIL-EUA

Cientistas políticos destacam importância do país para Washington, reconhecem influência decisiva de Lula na América Latina e afirmam que líder pressiona norte-americanos por parceria estratégica

´´Lula tenta se estabelecer como um chefe de Estado confiante na América Latina`` Thomas E. Skidmore, historiador e brasilianista

Arquivo Pessoal ´´Lula foi o terceiro chefe de Estado a falar com Obama e isso não ocorre por acaso`` Riordan Roett, diretor do Programa de Estudos Latino-Americanos da Universidade Johns Hopkins Se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretendia vender ao colega Barack Obama a imagem de que o Brasil é um protagonista no cenário político mundial, ele foi bem-sucedido nesse intento. A opinião é de renomados especialistas consultados por telefone pelo Correio. Para o brasilianista e historiador norte-americano Thomas E. Skidmore, Lula transmitiu uma imagem de confiança em sua visita a Washington. ¿Ele pretende que os emergentes, inclusive o Brasil, sejam incluídos no rol dos países que decidem¿, afirmou. ¿Lula tenta obter mais influência política e exerce uma pressão política para se tornar um forte parceiro dos Estados Unidos na América Latina¿, acrescentou. Skidmore reconhece que a popularidade de Lula ¿incrivelmente alta¿ se vê ameaçada agora pela crise econômica.

Para o brasilianista, o prestígio de Lula lhe confere a posição de porta-voz dos governos latino-americanos, na medida em que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, está neutralizado perante Washington. ¿Obama tenta cooperar com a imagem do Brasil como líder regional¿, explicou Skidmore. Essa posição, segundo ele, é justificada pelo desempenho notável da economia brasileira e pelo bom relacionamento do país com regimes de esquerda, incluindo o Equador e a Venezuela. ¿Lula tenta se estabelecer como um chefe de Estado confiante na América Latina, um líder que gozaria de posição mais confortável do que os colegas Cristina Kirchner (Argentina) e Felipe Calderón (México).¿

Diretor do Programa de Estudos Latino-Americanos da Universidade Johns Hopkins (em Baltimore), Riordan Roett admite: ¿Quanto mais a casa Branca escutar os países emergentes, melhor¿. De acordo com ele, ¿não há dúvidas de que Washington leva o Brasil a sério¿. ¿Lula foi o terceiro governante a falar com Obama e isso não ocorre por acaso¿, lembrou. Ele explicou que as visitas ao Salão Oval são cuidadosamente planejadas e calculadas. Roett admite que o Brasil se tornou um protagonista cada vez mais importante na área do comércio, especialmente nos âmbitos da Rodada de Doha e da Organização Mundial do Comércio. ¿O presidente Lula maneja essa nova importância do Brasil com destreza e isso é profundamente reconhecido pelos EUA e pelo mundo¿, concluiu.

Assessores do Itamaraty que acompanharam o encontro de Lula com Obama ontem, em Washington, reconheceram que o fato de a reunião ter durado mais que o previsto é um indicador de que os Estados Unidos têm muito a ouvir do Brasil. ¿Lula e Obama são pessoas sérias e tenho certeza de que o nosso presidente escutou cuidadosamente o colega brasileiro¿, comentou Roett.

O também brasilianista William Smith, da Universidade de Miami, afirmou que, além de o Brasil ser um dos 10 maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos, existe um reconhecimento de que o país se tornou o mais influente da América do Sul. ¿Em termos de afinidades, tanto Lula como Obama se veem como `progressistas pragmáticos¿, que partilham aspirações reformistas semelhantes ¿ contra a pobreza, a desigualdade e pelo progresso racial. O que mantém os dois presidentes juntos é o fato de eles terem os mesmos interesses e objetivos políticos.¿

Smith aposta em uma melhoria nas relações entre Brasil e Estados Unidos, com a política norte-americana pendendo para o pragmatismo e escapando da tendência ideológica. O professor da Universidade de Miami admitiu que o governo brasileiro pode se tornar um parceiro fundamental, caso Obama realmente se mostre engajado no debate sobre as mudanças climáticas. Kathryn Hochstetler, cientista política da Universidade do Novo México e membro da Associação de Estudos Brasileiros (Brasa), contou que antes da transição na Casa Branca se reuniu com um membro do alto escalão do Departamento de Estado e percebeu a atenção dispensada ao Brasil. ¿Não tive dúvidas de que os Estados Unidos veem o Brasil como um dos países mais bem-sucedidos da América Latina, até capaz de se tornar um forte concorrente, em termos de influência, se Washington não começar a dar mais atenção à região.¿

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THE WASHINGTON POST O jornal mais influente dos Estados Unidos traz em seu site a manchete ¿Obama e líder do Brasil se focam em economia e energia¿. Segundo a reportagem, Lula e Obama voltarão a se encontrar na cúpula do G-20, em Londres, e na Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago.

THE NEW YORK TIMES O site de um dos jornais mais respeitados do mundo traz uma grande foto de Lula com Obama no Salão Oval. O texto afirma que o Brasil se tornou um grande parceiro comercial dos Estados Unidos. ¿Suas políticas econômicas cautelosas o ajudaram a superar a crise econômica¿, revela o jornal.

THE WALL STREET JOURNAL Com o curioso título ¿Obama recebe da Silva do Brasil na Casa Branca¿, o jornal porta-voz de Wall Street destaca que o encontro na Casa Branca foi ¿produtivo¿ e afirma que o Brasil tem visto pouco progresso em sua demanda de suspender a tarifa sobre a importação do etanol.