Título: Lula cobra firmeza
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 15/03/2009, Mundo, p. 18

BRASIL-EUA

Em reunião na Casa Branca, presidente brasileiro pede ao colega Barack Obama que adote decisões mais rígidas para superar a crise global. Biocombustíveis, economia e relações bilaterais dominam encontro

O primeiro encontro do presidente norte-americano, Barack Obama, com o colega brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva durou mais que o previsto, contou com uma pequena gafe do cerimonial da Casa Branca, teve direito a cobrança por parte do visitante e foi encerrado com gentilezas e uma deferência do anfitrião. Lula pediu a Obama que adote ¿decisões mais firmes¿ para superar a crise financeira global e considerou a reunião ¿uma oportunidade histórica de melhorar as relações com a América Latina e a África¿. O Correio apurou que, ao fim da visita em Washington, Obama levou Lula para um passeio no Rose Garden, um jardim de 38m de comprimento por 18m de largura que margeia o Salão Oval.

Segundo fontes do Itamaraty, a reunião ampliada começou pontualmente às 11h de Washington (12h em Brasília). Durante 55 minutos (15 a mais que o combinado), Lula e Obama discutiram vários temas, como a crise financeira, os biocombustíveis e a Rodada de Doha. O presidente brasileiro estava acompanhado do chanceler Celso Amorim; da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef; do assessor de Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia; e do embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Antônio Patriota. Às 11h55, os dois chefes de Estado tiveram uma audiência privada de 25 minutos (a previsão inicial era de 20 minutos).

¿O encontro foi muito bom. A nossa amizade pode ficar muito mais forte¿, declarou Obama, que lembrou ter nascido no Havaí e revelou o desejo de conhecer o Rio de Janeiro, ¿onde as praias são muito bonitas¿, e a Amazônia. Por sua vez, Lula destacou a importância da eleição do norte-americano na relação com a América Latina e a África. ¿O presidente Obama e eu estamos convencidos de que essa crise econômica pode ser resolvida com decisões políticas no próximo G-20 (a cúpula dos 20 países desenvolvidos e emergentes ocorre em 2 de abril, em Londres)¿, disse o brasileiro. ¿Nós precisamos restabelecer a credibilidade e a confiança da sociedade no sistema financeiro e, para isso, temos de fazer com que o crédito volte a fluir dentro de cada país¿, acrescentou. Lula cobrou ação rápida das lideranças mundiais para combater a crise.

Durante a entrevista, os presidentes arrancaram risos dos jornalistas. ¿Eu disse ao presidente Obama que digo ao povo brasileiro que estou rezando mais por ele do que por mim¿, comentou Lula. ¿Com apenas 40 dias de mandato, ter um pepino como esse, como a crise americana¿ Eu não queria estar no lugar dele¿, brincou. Obama rebateu, com humor: ¿Ele está parecendo minha mulher falando comigo¿. Ao anunciar o encontro, o cerimonial da Casa Branca errou o nome do visitante, que virou ¿Luis Ignacio¿.

Investimentos e Sean Obama aproveitou o encontro com Lula para elogiar a liderança do brasileiro e pedir a captação de mais investimentos aos EUA. ¿Qualquer investidor, não apenas o governo chinês, pode ter confiança no nosso país¿, afirmou. A possibilidade de cooperação para o combate à pobreza na África, a política de desenvolvimento na América Latina e o comércio também foram temas da reunião. Em um determinado momento, Obama pediu desculpas por ter se alongado na resposta a um jornalista. Lula retribuiu: ¿Na América Latina, estamos acostumados com presidentes que falam bastante¿. De novo, arrancou risos.

O norte-americano reconheceu a ¿liderança incrível do Brasil¿ na área dos biocombustíveis e prometeu dobrar os impostos dos EUA, a fim de implantar uma matriz energética limpa. ¿Temos de aprender muito com o Brasil. Eu sei que o tema da entrada do etanol brasileiro nos EUA é motivo de tensão entre os dois países e isso não vai mudar de um dia para o outro. Mas enquanto continuarmos esse intercâmbio de ideias, a tensão vai se resolver¿, disse Obama. Na tentativa de quebrar a formalidade, Lula afirmou: ¿Quando o presidente Obama for ao Brasil, vou pedir a ele para andar em um carro Flexfuel e ele vai perceber a tranquilidade¿.

O presidente dos EUA fez questão de levantar o caso Sean Goldman no encontro. ¿Obama agradeceu a posição do governo brasileiro de fazer com que o processo fosse para a Justiça Federal¿, disse Lula. O norte-americano David Goldman luta há mais de quatro anos pela devolução de seu filho Sean, de 8 anos. David casou-se com a brasileira Bruna Bianchi em 1999 e em 2000 eles tiveram a criança. Quatro anos depois, Bruna trouxe o filho para o Brasil, pediu o divórcio e se casou em 2007 com o advogado João Paulo Lins e Silva. A mulher morreu em agosto de 2008. Sean vive com o padrasto, que se recusa a devolvê-lo ao pai biológico.

REINO UNIDO DEFENDE REFORMA O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, disse que os americanos devem apoiar a reforma da regulação dos hedge funds ¿ fundos especulativos ¿, um dos responsáveis pela crise financeira global. ¿Eu creio que os americanos estão dispostos a nos apoiar nesta mudança¿, declarou, depois de se reunir com a premiê alemã, Angela Merkel, em Londres (foto).