Título: Produção industrial tem maior queda desde 2004
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 02/04/2009, Economia, p. 23

Em fevereiro, recuo foi de 17% frente ao mesmo mês de 2008. Mas, em relação a janeiro, teve leve recuperação e subiu 1,8%

A produção industrial teve queda de 17% em fevereiro, em relação ao mesmo mês de 2008, o maior recuo desde junho de 2004. É o quarto mês consecutivo em que o IBGE constata queda na produção industrial. Se comparado com janeiro, a indústria teve uma recuperação tímida de 1,8%. Do ponto de vista estatístico, a produção vem registrando uma ligeira recuperação nos primeiros meses do ano, mas o resultado de fevereiro ainda está abaixo dos índices que vinham sendo computados nos meses anteriores à crise.

¿ Se a base de comparação fosse dezembro (quando a produção do setor caiu 12,4% frente a novembro e 14,5% contra dezembro de 2007), poderíamos concluir que a indústria nacional está começando a sair do fundo do poço ¿ analisa o coordenador da Indústria do IBGE, Sílvio Sales, comentando que a ligeira recuperação de fevereiro é ainda insuficiente para neutralizar a queda generalizada que abateu-se sobre a indústria no fim de 2008.

Bens de capital têm maior queda desde 1996 Os indicadores divulgados ontem indicam o baixo índice de confiança do empresariado nacional em relação a uma eventual melhora a curto prazo. A produção de bens de capital, que inclui máquinas e equipamentos, despencou 24,4% se comparada com fevereiro de 2008. Foi a maior queda desde 1996. Outras quedas também expressivas foram registradas na produção de bens duráveis (24,3%) e de bens intermediários (21%).

Dos 755 produtos pesquisados, 77% indicaram perda de dinamismo. Houve recuo em 23 das 27 atividades analisadas, incluindo o setor automotivo, que registrou desaceleração de 29,8% em fevereiro. Isso significa que nem mesmo a redução do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para o setor conseguiu estimular a indústria.

¿ Estamos tentando juntar os cacos, mas será difícil fechar o ano com um PIB (Produto Interno Bruto, soma de bens e serviços produzidos no país) positivo ¿ avalia Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, admitindo que os resultados de fevereiro ficaram abaixo das expectativas.

Mercado aposta em Selic de 9% no fim do ano A frustração atingiu parte significativa do mercado. A economista Betina Petroll, do Banco Santander, estava projetando uma alta de 3,9% de fevereiro contra janeiro, e uma queda de 14% em relação ao mesmo mês do ano anterior.

¿ Talvez seja o caso de revermos os modelos de estimar a produção, que leva em consideração apenas os indicadores de produção ¿ avalia ela, sugerindo a inclusão no modelo de indicadores de demanda, já que, com a crise internacional, as exportações brasileiras despencaram.

¿ Quem sabe mudando o modelo, teremos projeções mais acertadas.

No ritmo que a indústria nacional está caminhando, diz Betina, existe espaço de sobra para novos cortes na taxa básica Selic.

Ela está apostando numa queda de 1,5 ponto percentual na próxima reunião do Copom, o que levaria a Selic a cair dos atuais 11,25% para 9,75%.