Título: Economia abaixo da meta oficial
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 01/04/2009, Economia, p. 15

Superávit primário fica em R$ 9,2 bilhões, ou 3,43% do PIB.

BRASÍLIA. O setor público consolidado ¿ que inclui, além do governo central, estados, municípios e estatais ¿ fechou o segundo mês consecutivo com o superávit primário abaixo da meta oficial estabelecida no Orçamento federal, de 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país). Os R$ 9,295 bilhões acumulados em janeiro e fevereiro equivalem a 3,43% no fluxo de 12 meses, o pior desempenho do governo Lula e o menor percentual desde os 3,14% de agosto de 2002. Isso se deve à forte queda na economia que a União faz para pagar juros.

O superávit de fevereiro está abaixo dos 3,58% do PIB de janeiro e bem distante dos 4,07% do ano de 2008, quando a meta oficial também foi de 3,8%. Isso é resultado da queda de 54,20% da economia para pagamento de juros em fevereiro: R$ 4,107 bilhões, a pior para o mês desde 2005 (R$ 4,046 bilhões). O mau desempenho se deve à perda de arrecadação.

¿ A tendência é continuar caindo a curto prazo ¿ afirmou Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC).

Segundo Lopes, a crise também vai impedir que o setor público se beneficie da queda acentuada da Selic este ano, o que reduz o endividamento.

Ela será anulada pela revisão, de 3,2% para 1,2%, da expansão do PIB pelo BC, anunciada segunda-feira. Por isso, o BC mantém a projeção de que a relação dívida/PIB encerrará 2009 a 35%, contra 36% em 2008. Em fevereiro, com a dívida pública a R$ 1,091 trilhão, o indicador atingiu 37% do PIB e deverá ir a 37,5% em março, disse Lopes.

O governo central teve saldo positivo de R$ 903 milhões, o pior fevereiro desde 1998 e queda de 77,9% frente a 2008. O pagamento com juros chegou a R$ 10,179 bilhões, gerando déficit nominal nas contas públicas de R$ 6,072 bilhões. Mas Lopes acredita que será possível cumprir a meta de 3,8% do PIB, apostando na recuperação no segundo semestre. O BC também espera que o governo desconte o Projeto Piloto de Investimentos (PPI) da meta, que cairia para 3,3%.

O economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, acha pouco provável cumprir a meta. Mas, com a crise global, ele não vê problema a curto prazo, só a partir de 2010.