Título: Congresso discute atuação do 'cara' pós G-20
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 04/04/2009, O País, p. 5

Governistas e oposição concordam que Lula vai explorar elogios de Obama, mas discordam sobre objetivos.

Cristiane Jungblut

BRASÍLIA. Parlamentares da oposição e governistas reconheceram ontem a importância da participação do Brasil na reunião do G-20 em Londres, que provocou até um consenso entre eles: todos acham que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai explorar politicamente sua participação no encontro. E vai aproveitar, principalmente, os elogios recebidos do presidente dos EUA, Barack Obama, que chamou o colega brasileiro de "o político mais popular da Terra". "Esse é o cara", completou Obama.

Mas os dois grupos políticos divergem sobre os efeitos práticos que os afagos a Lula terão no enfrentamento da crise econômica e no cenário eleitoral de 2010.

O PT já explora o fato como uma prova de que Lula está conduzindo bem o país economicamente, enquanto a oposição afirma que o presidente mantém um discurso excessivamente otimista e só reage a reboque dos acontecimentos.

Ex-líder do PT na Câmara, o deputado Maurício Rands (PT-PE) - que estava nos EUA no dia posse de Obama - disse acreditar que a admiração do presidente americano por Lula é genuína. Ele também considerou mais um gesto "simbólico" Lula ter dito que "era muito chique" o Brasil ajudar financeiramente o Fundo Monetário Internacional (FMI).

- Não é só o carisma de Lula, é o reconhecimento do novo papel do Brasil. Acho que terá efeito político (aqui). Os brasileiros, na sua maioria, percebem que o presidente está conduzindo bem o país, que o Brasil está sofrendo menos - disse Rands, admitindo, porém, que o país enfrenta os efeitos da crise.

Já o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP), considerou que a reunião do G-20 avançou um pouco mais do que as anteriores, mas reclamou que o reconhecimento dado ao governo Lula é "injusto", pois não são lembradas as medidas adotadas pelo governo Fernando Henrique. Ele citou o Proer, o programa de ajuda aos bancos.

- Eles veem o sistema financeiro americano e europeu quebrados; e o do Brasil, não. Mas, se o Proer não tivesse sido feito, o brasileiro estaria destruído. Então, se está sendo injusto com o presidente Fernando Henrique quando não compartilha com ele (os elogios sobre o país) - disse Aníbal, lembrando que o PT foi contra o Proer.

Presidente do DEM diz esperar medidas concretas

Para o líder tucano, Lula tentará tirar dividendos políticos da reunião. Frisou, porém, que o discurso do governo está descasado da realidade, citando as dificuldades dos municípios e a baixa execução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Já o presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), disse esperar que o encontro do G-20 se traduza em medidas concretas para ajudar os países mais afetados pela crise:

- Não sei se o melhor caminho é Lula dizer que vai ajudar o FMI, num momento em que mais empresas estão reduzindo empregos, em que os prefeitos têm dificuldades. O presidente vai usar todos os instrumentos para desviar a atenção, mas a melhor alternativa é enfrentar os problemas, e não como tem feito. O governo só consegue reagir - disse Maia.