Título: Doações oficiais e obscuras
Autor: Lúcio Vaz
Fonte: Correio Braziliense, 31/03/2009, Política, p. 03

Escutas telefônicas que citam ¿remessas pesadas e envio de dinheiro em espécie¿ estariam desassociadas das contribuições de campanha feitas por caixa 2. Polícia busca provas em documentos apreendidos

A maior parte das doações eleitorais citadas nas conversas telefônicas e nos e-mails trocados entre diretores da empreiteira Camargo Corrêa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As escutas telefônicas que citam remessas ¿pesadas¿ e envio de dinheiro ¿em espécie¿ não estão comprovadamente ligadas a contribuições de campanha ¿ a Polícia Federal agora busca provas em documentos apreendidos nas casas dos funcionários e na empresa. O total de doações oficiais feitas pelo grupo Camargo Corrêa chega a R$ 6,54 milhões.

A maior doação foi feita para o Comitê Financeiro Único do DEM em São Paulo, no valor de R$ 3 milhões, no dia 30 de julho do ano passado. Entre julho e agosto, a candidata do PT à Prefeitura de Curitiba, Gleisi Hoffmann, mulher do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, recebeu um total de R$ 500 mil da Camargo Corrêa em contribuições registradas no TSE. Em 14 de agosto, o seu adversário, Beto Richa (PSDB), recebeu R$ 300 mil da empreiteira.

Numa conversa em 26 de maio, antes das doações oficiais, os diretores Fernando Gomes e Pietro Bianchi falam de remessa para Curitiba. Pietro diz: ¿É, então vamos fazer esse. Agora, a outra, aquela pesada que tem de Curitiba. Quem é que vai fazer, nós?¿ Fernando responde: Kurt Pickel.

No dia 7 de abril, Pietro conversa com um funcionário de nome Bruno sobre uma entrega de dinheiro no Recife. Bruno informa que deve ser ¿em espécie¿. Pietro lembra que remessas dessa forma só são feitas no Rio e em São Paulo. O relatório da PF descreve que eles ¿acham o valor alto para levar para Recife. Entretanto, devido à exigência da pessoa que vai receber o dinheiro, avaliam essa possibilidade¿. Essa conversa é citada no inquérito porque há suspeita de superfaturamento de obra da Camargo Corrêa em Pernambuco, a Refinaria do Nordeste. A ligação com a campanha não está clara.

Confirmações As escutas revelam que o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos solicitou a um diretor da Camargo Corrêa uma doação para um candidato a vereador pelo PT na capital paulista. A contribuição foi feita pela empresa Cavo Serviços e Meio Ambiente, do grupo Camargo Corrêa, e registrada no TSE no dia 15 de setembro, no valor de R$ 50 mil, como citam os diretores na gravação.

Num e-mail trocado com um diretor da Federação das Indústrias de São Paulo, Luiz Bezerra, o diretor Fernando cita casos de ¿recibos¿ pendentes para PSDB, PT, PTB e PV, todos de São Paulo. As contribuições foram registradas no mesmo dia no TSE, 30 de setembro. A doação para o Diretório Regional do PT, no valor de R$ 25 mil, não aparece nos registros do tribunal porque foi feita para o diretório. Só vai aparecer na prestação de contas do Diretório Nacional do PT, nos próximos meses.

Da mesma forma, a doação supostamente feita para o senador Agripino Maia (DEM-RN), citada em várias gravações, foi registrada em nome do diretório do partido no Rio Grande do Norte, como demonstra nota divulgada pelo próprio senador.

Nas escutas feitas pela PF, servidores do gabinete do senador Mão Santa (PMDB-PI) cobram de Luiz Henrique, da Fiesp, os recibos de uma doação no valor de R$ 100 mil. O assessor Doca Lustosa esclareceu ontem que a doação foi feita para o comitê eleitoral do PMDB de Parnaíba (PI), mas não pela Camargo Corrêa, e sim pela empresa Galvasud.