Título: Ação que favoreceu usineiros teve tempo recorde
Autor:
Fonte: O Globo, 04/04/2009, O País, p. 11

Apesar de contestação do Ministério Público, suposta dívida de R$178 milhões foi quitada, com ajuda de Mentor

BRASÍLIA. Uma operação suspeita envolvendo autoridades do governo federal teria resultado no pagamento indevido de uma suposta dívida de R$178 milhões a um grupo de 53 usinas de quatro estados. O montante seria referente à cobrança de subsídios atrasados pela produção de álcool, ocorrida em 2002 e 2003. A operação, segundo reportagem da revista "Época" deste fim de semana, teria a participação do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo; do diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP), o ex-deputado Haroldo Lima, do PCdoB; e do deputado federal José Mentor (PT-SP), que quase teve seu mandato cassado no escândalo do mensalão.

O dinheiro foi liberado em duas parcelas, uma em outubro e outra em dezembro do ano passado, às vésperas do Natal. Nessa ação ainda há outros personagens, como lobistas e empresários, que se reuniam em Brasília para discutir como receber os R$178 milhões.

O pagamento foi feito num tempo recorde para esse tipo de dívida, que tem a União como a devedora. A revista conta que a ANP sequer se esforçou para pagar menos, o que poderia ter feito durante o processo. Segundo "Época", Haroldo Lima poderia ter negociado pagar apenas 10% do valor, cerca de R$14 milhões - valor considerado legítimo pelo Ministério Público Federal. Seria um desconto de 90%. Mas Lima não negociou.

Mentor foi nove vezes à ANP para tratar da dívida

Os sindicatos de usineiros contrataram o serviço de um lobista, Paulo Afonso Braga Ricardo, que atuou em Brasília. Nas reuniões na capital federal, havia até ata de reunião. Num desses documentos, José Mentor aparece dando explicações de seu trabalho e de seu périplo na ANP, onde, segundo a revista, teria ido nove vezes entre 2007 e 2008. O parlamentar dizia que "as dificuldades estavam sendo superadas" e que o dinheiro seria liberado em fevereiro de 2008, o que só ocorreu no final do ano.

O parlamentar negou à "Época" que seu envolvimento nessa esteja vinculado a algum ganho financeiro. Mentor afirmou estar atuando apenas como um deputado interessado no tema, na importância do álcool como fonte energética para o Brasil e o mundo.