Título: Do Brasil para o FMI: US$10 bi
Autor: Oliveira, Eliane; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 04/04/2009, Economia, p. 29

Empréstimo do país indicaria pretensões do governo Lula de aumentar poder no Fundo.

Acontribuição do Brasil para aumentar o poder de fogo do Fundo Monetário Internacional (FMI) em meio à crise - dentro do pacote global de US$1,1 trilhão fechado na reunião das 20 maiores economias mundiais (G-20), em Londres, quinta-feira - poderá ser de US$10 bilhões. Segundo técnicos do governo, uma das ideias seria usar 5% das reservas internacionais do país - hoje em torno de US$202 bilhões - para o crédito suplementar, o que representa mais de duas vezes a participação atual do Brasil no Fundo. A China se comprometeu a emprestar US$40 bilhões, o equivalente a 2% de suas reservas.

Isso porque as cotas que pertencem ao governo brasileiro no FMI equivalem hoje a US$4,5 bilhões. No entanto, o aumento efetivo da cota - que reflete o poder de voz e veto na instituição - só será definido em janeiro de 2011, em assembleia de todas as nações-membro. O empréstimo indicaria as pretensões do governo brasileiro nesta negociação.

De acordo com os técnicos, as reservas são compostas por dólares, títulos do Tesouro americano e por Direitos Especiais de Saque (DES) - papéis que representam a participação do Brasil no Fundo. Um dólar equivale a 0,666621 em DES. O que pode acontecer, por exemplo, é o Brasil fazer uma troca de dólares por DES com o FMI, aumentando a sua participação na instituição.

Loyola: cada um participa como pode

A forma como o Brasil vai contribuir no bolo internacional de U$1,1 trilhão - dos quais US$250 bilhões irão para um fundo que financiará o comércio mundial e US$750 bilhões para empréstimos do FMI, além de US$100 bilhões para organismos multilaterais - ainda será discutida pela equipe econômica. Porém, de acordo com uma fonte, o reforço de caixa daria mais peso ao governo Lula nos foros internacionais. Na quinta-feira, Lula disse que é "chique emprestar ao FMI".

Na prática, o que aconteceria com as reservas brasileiras seria uma mudança de composição. Mas, para o FMI, a medida representaria maior liquidez para linhas de financiamento. De acordo com técnicos do governo, os US$750 bilhões de que o Fundo disporá dificilmente serão desembolsados em sua totalidade. A ideia é influenciar as expectativas do mercado internacional, garantindo maior confiança.

O sócio da consultoria Tendências e ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola concorda que o Brasil terá de usar as reservas para ajudar no empréstimo, na modalidade de DES, e lembra que tudo tem seu preço: para expandir seu peso internacional, o Brasil tem de pagar mais:

- O Brasil tem uma situação privilegiada, pois não precisa de recursos do Fundo e pode aumentar seu cacife político. Mas não existe almoço grátis. É importante sempre levar em conta que não podemos brincar de ricos. Cada um deve participar de acordo com suas possibilidades.

Turquia está na fila para tomar recursos

O ex-vice-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) Otaviano Canuto, que assumirá a vice-presidência do Banco Mundial (Bird), comentou que há várias formas de o Brasil participar da injeção de recursos no mercado. Alcides Leite, professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, disse que os recursos que vão ajudar a compor o FMI serão um alívio para os emergentes, por preverem menos exigências.

Os recursos deverão criar uma fila de nações interessadas. Na quinta-feira, o México obteve um crédito de US$47 bilhões, e ontem a Turquia surgiu como o mais provável novo candidato para um empréstimo, que poderia chegar a US$50 milhões. O FMI já tinha aberto negociações com países do Leste Europeu, como Ucrânia, Sérvia e Geórgia, incluindo ainda membros da União Europeia como Hungria, Letônia e Romênia.

COLABORARAM Fernando Duarte, correspondente, e Deborah Berlinck , enviada especial

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