Título: Mídia aplaude cúpula com ressalvas
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Fonte: O Globo, 04/04/2009, Economia, p. 30

Para "FT", decisões históricas. "Guardian" e "NYT": faltam ações concretas

LONDRES. O resultado da reunião de cúpula dos líderes dos países do G-20 foi saudado com otimismo por grande parte da mídia internacional ontem, mas não sem uma série de ressalvas. No Reino Unido, por exemplo, as decisões sobre regulação do sistema financeiro e a injeção maciça de recursos na economia foram saudadas como históricas pelo jornal "Financial Times", que disse que o mundo se tornou um lugar melhor por conta do evento de quinta-feira. Porém, o mesmo jornal se mostrou decepcionado com a falta de maior detalhamento de ações para limpar as pilhas de ativos podres no sistema bancário.

O "Guardian", embora tenha elogiado a consagração do G-20 como o fórum número um mundial para a tomada de decisões, disse que o documento oficial do encontro careceu de um maior comprometimento com uma reforma do capitalismo a longo prazo.

Porém, o francês "Le Figaro" viu no resultado da reunião um acordo para um novo capitalismo, adotando também um tom reverencial à aliança entre o presidente do país, Nicolas Sarkozy, e a chanceler alemã, Angela Merkel, que fizeram uma vitoriosa pressão por um maior comprometimento com mecanismos regulatórios. O maior cerco aos paraísos fiscais - países ou regiões que não identificam os proprietários das aplicações financeiras - é considerado uma conquista de Sarkozy.

Ambientalista: palavras não são suficientes

Nos EUA, o "Washington Post" classificou a reunião londrina como um raro caso de sucesso em comparação com encontros internacionais anteriores. No seu artigo, o colunista Steven Pearlstein escreveu que "apesar de (o presidente dos EUA) Barack Obama ter exagerado um pouco ao falar de ponto de virada para a economia global em retração, o encontro conseguiu alimentar a confiança dos mercados financeiros e fornecer a necessária cobertura política para os líderes mundiais tomarem medidas impopulares em seus países". No entanto, o "New York Times" enxergou a falta de políticas mais concretas para consertar a economia mundial.

Na China, o "Beijing News" saudou o entendimento entre os líderes mundiais, algo reforçado pelo "People"s Daily", para quem apenas os esforços globais serão suficientes para controlar a crise. E no Oriente Médio, o jornal pan-árabe "Al-Alamiyah" chamou a atenção para a necessidade de assegurar que as reformas do Fundo Monetário Internacional (FMI) vão realmente distanciar a instituição dos interesses americanos e beneficiar também países que não tenham relações especiais com Washington.

No quesito meio ambiente, as críticas foram praticamente unânimes, apesar de na declaração final os líderes terem reafirmado seu compromisso para combater a ameaça de mudança climática.

- É sempre útil reiterar um compromisso, mas muito melhor é realmente colocar em prática - disse o secretário-executivo da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCC), Yvo de Boer.

(*) Enviada especial, com agências internacionais