Título: Parlamentares negam retribuir ajuda financeira com favores no Congresso
Autor: Franco, Bernardo Mello; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 06/04/2009, O País, p. 3

Para Paulo Renato, repercussão da investigação pode inibir contribuições legais.

BRASÍLIA. Parlamentares que se elegeram com doações de empreiteiras negam retribuir a ajuda financeira com favores no Congresso.

O deputado Paulo Renato Souza (PSDB-SP), que declarou ter recebido R$ 100 mil da Camargo Corrêa e R$ 40 mil da Odebrecht, afirmou que as empresas o apoiaram por concordar com seus ideais. Ele disse não ter sofrido qualquer tipo de pressão para apresentar emendas ao Orçamento ou defender as construtoras de acusações na Câmara.

Para o tucano, a repercussão da Operação Castelo de Areia, da Polícia Federal, pode inibir grandes empresas de contribuir legalmente para campanhas políticas. Ele acusou a Polícia Federal de constranger parlamentares que teriam recebido doações legais da Camargo Corrêa e foram citados na investigação, como os senadores José Agripino Maia (DEM-RN) e Flexa Ribeiro (PSDB-PA).

¿ Estão criminalizando as doações registradas, feitas por dentro. Agora vai ficar mais difícil arrecadar dinheiro legalmente ¿ afirmou Paulo Renato, que se licenciou do mandato na Câmara para assumir a Secretaria de Educação no governo paulista.

Ex-presidente da Câmara, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) disse, por meio de assessoria, que defende a proibição do financiamento privado de campanhas ¿ o financiamento público é um dos pontos da reforma política que não anda no Congresso. Em 2006, Chinaglia declarou à Justiça Eleitoral ter recebido R$ 119 mil da Camargo Corrêa e R$ 150 mil da OAS.

De acordo com o petista, a adoção do financiamento público igualaria as oportunidades e protegeria a imagem dos parlamentares. Ele disse que escândalos como o da Camargo Corrêa põem em suspeição políticos que receberam dinheiro da empresa, mas não se envolveram nos episódios investigados pela PF.

As empreiteiras que lideram o ranking de financiamento eleitoral também negaram haver relação entre as doações e a defesa de seus interesses no Congresso. Em nota, a Camargo Corrêa disse escolher candidatos que apresentem propostas ¿coerentes com sua visão empresarial¿. ¿Ao fazer contribuições, o grupo exerce um direito legal e cumpre um dever de cidadania, colaborando com o processo democrático de acordo com o modelo eleitoral existente¿, afirmou a direção da construtora.

A justificativa da Odebrecht seguiu na mesma direção: ¿Nossas contribuições não se pautam por orientação partidária ou ideológica, mas pelas causas defendidas pelos candidatos, cujos focos sejam a valorização do empresariado nacional, a melhoria da educação e a geração de oportunidades de trabalho e renda¿.

As construtoras OAS e Barbosa Mello não responderam aos pedidos de entrevista.(Bernardo Mello Franco e Gerson Camarotti).