Título: Gilmar: PF deveria ter mais modéstia
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 07/04/2009, O País, p. 4

Presidente do STF classifica comportamento da instituição de "midiático.

Em mais um capítulo da tensa relação com a Polícia Federal, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, voltou à carga ontem: acusou a instituição de conduzir inquéritos precários, que atrapalhariam o trabalho do Judiciário, e classificou seu comportamento de ¿midiático¿. O ministro fez a declaração ao responder às críticas do diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, sobre a lentidão do Judiciário: ¿ Talvez a polícia devesse ter mais modéstia, cuidado, humildade quando anunciasse as suas conclusões. Talvez até não devesse fazer divulgações e entregar o inquérito ao Tribunal ¿ disse o ministro, depois de participar de encontro com diplomata estrangeiro no Palácio Itamaraty, Centro do Rio: ¿ Temos que fazer a avaliação de cada um dos casos. Se o Judiciário é lento na sua avaliação, talvez não devesse haver precipitação no anúncio das decisões dos levantamentos precários do inquérito ¿ disse.

Gilmar afirmou ainda que o Judiciário não foi criado para condenar pessoas: ¿ O Judiciário não existe para condenar. Isso existia no regime soviético, no nazista, no cubano.

O Judiciário existe para julgar. Quanto mais a polícia apurar, mais vai se aproximar do juízo que se forma a partir da ampla defesa.

O ministro citou a absolvição de investigados na Operação Anaconda, que investigou um esquema de corrupção na Justiça Federal paulista: ¿ Vejam que aquela chamada Operação Anaconda resultou em ampla absolvição no STF.

Qual é o juízo que prevalece? Tenho que dizer que foi o juízo estabelecido definitivamente pelo STF. Todos nós, delegados, promotores, juízes, devemos calçar as sandálias da humildade. Saber que não estamos fazendo juízos prévios ¿ afirmou.

A queda de braço entre o STF e a PF começou no ano passado, após a Operação Satiagraha. Na época, a PF prendeu por duas vezes o banqueiro Daniel Dantas, solto por habeas corpus concedido por Gilmar.

O ministro da Justiça, Tarso Genro, voltou a negar, após aula inaugural de um curso para PMs, que tenha havido favorecimento a partidos da base no relatório da Operação Castelo de Areia, que investigou supostos crimes financeiros da empresa Camargo Corrêa. Tarso será ouvido na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Ele disse que não vai se defender, mas mostrar que as investigações da PF costumam provocar ¿estremecimento¿ com partidos.

¿ Sempre que aparecem publicamente os resultados dessas operações há um estremecimento.

São as dores do parto da democracia e da República