Título: Protógenes: ajuda da Abin à PF é comum
Autor: Bôas, Bruno Villas; Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 09/04/2009, O País, p. 3

Delegado, que depôs na CPI dos Grampos, é indiciado por quebra de sigilo funcional.

BRASÍLIA. O delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz utilizou o habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para permanecer calado diante de perguntas que detalhassem a participação de agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na Operação Satiagraha, durante seu depoimento de ontem à CPI dos Grampos. Ele sustentou, no entanto, que a atuação de arapongas em ações da PF é comum e ocorreu centenas de vezes.

¿ A questão da participação da Abin, há uma lei que regulamenta, e o entendimento já é recepcionado pelo STF. Está dentro da legalidade a participação da Abin em ações da PF.

E não foi apenas na Satiagraha, foram mais de 160 ¿ disse o delegado.

No mesmo dia do depoimento, chegou à CPI cópia de relatório da PF que indicia Protógenes e mais quatro policiais federais por quebra de sigilo funcional e desrespeito ao sigilo das interceptações telefônicas da investigação.

Segundo o relatório da Corregedoria da PF, o uso de agentes da Abin na operação Satiagraha foi ilegal e indevido, embora o Tribunal Regional Federal de São Paulo tenha considerado a parceria legal.

O relatório final do delegado Amaro Vieira da Cunha ¿ o inquérito já foi enviado à 7aVara Criminal Federal ¿ afirma que Protógenes buscava projeção midiática e política. ¿O fato é que o delegado Protógenes Queiroz, patrocinador de toda essa intervenção espúria, obteve aval da direção geral da Abin nas circunstâncias antes descritas, e passou a contar com uma mão de obra fácil, indevidamente disponível, mas sem a necessidade de apresentação de justificativas fundamentadas para obtê-la¿, diz o texto. Além disso, revela que o juiz Fausto De Sanctis ¿não tinha conhecimento¿ da participação da Abin.

Protógenes nega que Dilma e Lulinha tenham sido investigados Os únicos esclarecimentos sobre suspeitas mais rumorosas fornecidas ontem na CPI por Protógenes foram sobre a investigação de autoridades.

Ele negou que a operação tenha mirado a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e um dos filhos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dilma teria sido ¿bisbilhotada¿, conforme anotações encontradas no computador pessoal do delegado, que foi apreendido.

Protógenes também negou que Fábio Luís Lula da Silva, filho do presidente, tenha sido investigado, conforme insinuação feita pelo banqueiro Daniel Dantas em agosto de 2008 na própria CPI. Suspeitava-se de que o delegado tivesse voltado suas atenções para o filho do presidente, porque Fábio teria sido ¿cooptado¿ por Dantas.

¿ Afirmo que (a ministra Dilma) não foi objeto de investigação. Nem o filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como o banqueiro-bandido quis reverberar e induzir ao erro os excelentíssimos deputados ¿ disse o delegado.

A sessão começou tensa e teve até bate-boca, mas Protógenes se mostrou calmo, às vezes irônico, e usou o direito de permanecer calado, especialmente para as perguntas do presidente da CPI, Marcelo Itagiba (PMDBRJ).

Ele só se mostrou mais eloquente quando indagado sobre Dantas, a quem sempre se referiu como ¿banqueiro-condenado¿ ou ¿banqueirobandido¿.

Protógenes acusou Dantas de ter armado um amplo esquema de ¿exploração nociva¿ do país, que iria muito além de seus negócios na telefonia e incluiria a transposição do Rio São Francisco e uma eventual privatização da Petrobras.

Segundo ele, Dantas tentou ¿até tomar conta do Parlamento brasileiro¿ e detém mais de mil concessões de exploração mineral no país.

Cerca de uma dúzia de pessoas ¿ligadas ao PSOL e ao Movimento Terra Trabalho e Liberdade (MTL) ¿ formaram uma claque de apoio ao delegado. Alguns usavam uma camiseta estampada com a frase ¿Protógenes contra corrupção¿.

O delegado é provável candidato do PSOL a deputado nas eleições do ano que vem.

Protógenes lembrou que é semana da Páscoa e recitou um trecho de ¿O Tocador de atabaque¿ (Eduardo Alves da Costa): ¿A plateia não deve sofrer emoções fortes. Mas eu nasci no tempo de sussurros, e tenho a voz contundente...¿ O depoimento durou mais de cinco horas e decepcionou quem esperava por novas revelações.

O deputado Chico Alencar (PSOL) interveio para impedir que Itagiba exibisse um powerpoint intitulado ¿Onde está a verdade?¿, com supostas contradições de Protógenes. Segundo Alencar, se tratava de peça de pressão indevida.

Os dois acabaram discutindo e trocando acusações. Alencar lembrou que Itagiba recebeu doação de campanha de um sócio de Dantas, o banqueiro Dório Ferman