Título: Discursos e nada mais
Autor: Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 22/03/2009, Política, p. 3

Todos os deputados que assumiram o comando da Câmara iniciaram um estudo sobre o uso ¿ ou a falta dele ¿ dos apartamentos funcionais. Prometendo economia de gastos, muitas propostas já foram discutidas e a maioria colocada na gaveta. Desta vez, o quarto-secretário, Nelson Marquezelli, é quem protagoniza o discurso, apesar de saber que os planos que anuncia dificilmente se tornarão realidade.

Nos corredores da Câmara, integrantes de todos os cleros conversam e convergem em torno da ideia de que mudanças na administração dos apartamentos só causariam prejuízos aos próprios bolsos. Há argumentos de todos os lados. Os parlamentares que utilizam o auxílio-moradia para pagar hotéis não querem abrir mão dos R$ 3 mil mensais a que têm direito, alegando que não têm interesse em administrar uma casa em Brasília. Vale lembrar que parte deles possui imóveis na capital. Deputados que atualmente ocupam uma das 432 unidades habitacionais pertencentes à Câmara também não são simpáticos à possibilidade de mudar as regras porque não querem discutir a chance de terem de pagar do próprio bolso as contas referentes à manutenção básica desses imóveis. Hoje até a troca de uma lâmpada é paga pelos cofres públicos.

Apesar da dificuldade e das poucas chances de o projeto de regulamentação se tornar realidade, discutir propostas de redução de benefícios para deputados sempre rende popularidade e espaço na mídia. Por isso, é certo que os novos integrantes da Mesa Diretora o farão.

O problema ¿ pelo menos para os brasileiros contribuintes ¿ é que a única coisa tida como certa por todos os lados dessa discussão é o fato de nenhum parlamentar aceitar perder as benesses que ¿conquistaram¿ ao longo das legislaturas. Afinal, foram anos recheados de acordos, corporativismo e falta total de respeito ao dinheiro público. Diante de conquistas históricas, não importa o que se dirá: a tendência é que tudo permaneça exatamente como está. (IT)