Título: Lima Neto era alvo das críticas de Meirelles
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 09/04/2009, Economia, p. 20

Presidente do BC reclamava do fato de o BB ter elevado juros no auge da crise financeira.

BRASÍLIA. A degola do presidente demissionário do Banco do Brasil (BB), Antonio Lima Neto, foi uma decisão direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, descontente com a atuação da maior instituição pública do país. Mas um dos principais algozes de Lima Neto foi o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles. Segundo interlocutores, desde o fim do ano passado, Meirelles, nas reuniões com os bancos públicos, a equipe econômica e Lula, criticava abertamente a atuação do BB, que aumentou juros no auge da crise, levando o setor privado a fazer o mesmo.

A posição defensiva de Lima Neto nas reuniões, segundo uma fonte, gerou um desconforto para sua permanência no comando do BB. Ele sempre apontava dificuldades para tomar medidas mais agressivas em relação ao crédito, argumentando que o banco, por negociar ações em Bolsa, precisa seguir regras de governança e metas de rentabilidade para não dar prejuízo aos acionistas.

Em entrevista ao GLOBO em dezembro, quando a pressão do governo já estava forte, Lima Neto disse que não iria tolerar riscos acima do aceitável, um sinal de que não cederia.

Mantega não ficara satisfeito com indicação de Lima Neto Nos encontros, Meirelles não só acusava o BB de ter elevado os juros de forma não apropriada, como afirmava que o banco tinha, em algumas linhas, as mais elevadas taxas do mercado. Meirelles tinha como aliado o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que nunca defendeu Lima Neto. Na verdade, Mantega não gostava dele, que lhe foi empurrado por Lula a pedido de Rossano Maranhão, ex-dirigente do BB que sucumbiu a pressões pósCPI dos Correios. Lima Neto ficou como interino de dezembro de 2006 a abril de 2007.

Isolado, Lima Neto acabou perdendo força e caindo em desgraça com Lula, que questionava, reservada e publicamente, por que os bancos públicos não poderiam ser mais agressivos na redução dos juros.

Irritado com a argumentação sobre governança, Lula, em reunião em janeiro, deu um prazo para uma proposta efetiva de redução dos juros. Segundo assessores palacianos, enquanto Maria Fernanda Coelho, presidente da Caixa, deixou claro que seguiria a recomendação de Lula, Lima Neto manteve sua posição.

¿ Ficou claro que Lima Neto não tomou as providências determinadas pelo presidente Lula para baixar o spread. Com isso, a situação dele ficou insustentável ¿ disse a senadora e ex-líder do PT Ideli Salvatti (SC).

Lula ainda argumentou que o BB poderia atrair mais clientes com a redução do spread. Após o embate com Lima Neto, Lula pediu informações sobre o presidente do banco, ficando convencido de que ele era um executivo com formação de mercado e que, por isso, seria impossível atingir seus objetivos com a permanência dele no BB.

¿ O BB e a Caixa formaram executivos que funcionam com a lógica de mercado, que tem como único objetivo o lucro. Nesse caso, a tendência de quem administra é defensiva. Talvez esse tenha sido o grande erro de Lima Neto ¿ disse o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), funcionário de carreira do BB.

A situação ficou insustentável quando o governo acelerou a formatação do pacote do spread, que inclui o cadastro positivo e a redução de tributos.

Não por acaso, Meirelles vem ressaltando que, sem uma atuação contundente dos bancos públicos, não será possível derrubar o custo do crédito.