Título: Não há justificativa para juros tão altos
Autor: Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 09/04/2009, Economia, p. 23
SÃO PAULO. Para o diretor do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, Luiz Guilherme Schymura, a falta de transparência dos bancos sobre a composição do spread criou desconforto entre os brasileiros. Ele vê na atitude de Lula a repercussão do clamor da sociedade.
O GLOBO: O senhor acredita que intervenções como a do presidente Lula podem ter efeito sobre os spreads no país?
LUIZ GUILHERME SCHYMURA: Não sei se vai ter efeito, porque a composição depende de quatro fatores: custos administrativos dos bancos, índices de inadimplência, carga tributária e margem de ganho e outros resíduos. Mas mais interessante seria tentar, via Caixa Econômica Federal, que é totalmente estatal, tentar detalhar os custos efetivos e definir uma taxa de retorno para o crédito. O Banco do Brasil (BB) tem ações em Bolsa, é mais complicado.
Mas a cobrança é sobre o BB?
SCHYMURA: O grande ponto é dar transparência ao BB, e também à Caixa.
Não há justificativa para juros tão altos.
Então a ação do presidente foi correta?
SCHYMURA: Tem de haver uma decisão política para que BB e Caixa abram seus números. Do ponto de vista da transparência, Lula tem razão em cobrar. Há um clamor pela redução dos spreads.
Existe um desconforto na sociedade, e o presidente repercute esse desconforto.
Partindo dos custos efetivos da Caixa e do BB, o senhor acredita que o governo pode atuar para mudar o ganho dos bancos no crédito?
SCHYMURA: São dois bancos que têm de ter transparência, e essa é uma oportunidade. Em cima da estrutura de custo deles pode-se definir uma taxa de retorno, e chega-se a um spread. Se ficar muito abaixo do praticado, fica comprovado que há exageros no mercado.
O senhor sugere começar pela Caixa?
SCHYMURA: A Caixa abriria caminho para o BB. E eles poderiam atuar no sentido de reduzir seus spreads, pressionando o resto do sistema a fazer o mesmo.
E se ficar constatado que os custos justificam taxas tão altas?
SCHYMURA: Se não puderem reduzir seus spreads, que Caixa e BB expliquem o porquê.