Título: Deputados usam verba indenizatória para pagar de pizza a jatinho
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 08/04/2009, O País, p. 3

Divulgação de notas fiscais dos gastos é feita na internet.

BRASÍLIA. A primeira semana de divulgação detalhada dos gastos com a verba indenizatória na internet (http://www2.camara.gov.br/transparencia) revelou que os deputados têm despesas bem variadas - de aluguel de jatinho a entrega de pizza. Mostra ainda curiosidades, como a gráfica que atende a pelo menos quatro deputados (três são fluminenses) na impressão de seus jornais de divulgação política. A transparência - com a divulgação dos principais dados da nota fiscal do serviço ou bem contratado pelo deputado - pretende coibir desvios, após o caso do deputado Edmar Moreira (sem partido-MG), que apresentava documento de suas empresas de segurança particular para justificar parte dos gastos de R$15 mil mensais da verba.

Por enquanto, quase todos os gastos declarados se referem a gasolina, divulgação do mandato e consultorias. Além de revelar os fornecedores e colaboradores frequentes, fica comprovada a prática, questionada pela 1ª secretaria da Casa, de apresentar nota fiscal única para gastos elevados de gasolina, sob pretexto de que seria a "conta do mês".

A gráfica Cyclone, de Brasília, por exemplo, recebeu um total de R$35 mil dos deputados Nelson Bornier (PMDB-RJ), Felipe Bornier (PHS-RJ) - pai e filho -, Paulo Rattes PMDB-RJ) e João Oliveira (DEM-TO). O gerente da empresa, José Sobreira, confirma ter "o pessoal do Rio" na carteira de clientes. O serviço para Oliveira teria sido encomendado por um intermediário. Segundo os gabinetes dos Bornier, os jornais são levados ao Rio de carro.

O deputado Sergio Moraes (PTB-RS) apresentou nota fiscal de R$2,5 mil da empresa Serco Serviços de Cobranças, a título de consultoria ou assessoria. Ele estava em consulta médica ontem e não foi localizado.

Já Marcelo Serafim (PSB-AM) gastou R$12 mil na Cleiton Taxi Aéreo, para locomoção, segundo alegou, em locais de difícil acesso em seu estado. Ainda no quesito de locomoção, deputados gastaram mais de R$4 mil com combustível - o teto é de R$4,5 mil. Marco Antônio (PRB-PE), por exemplo, fechou com duas notas o limite máximo. Betinho Rosado (DEM-RN) recebeu R$4,1 mil com uma única nota de alegado gasto com combustíveis.

Constam nas despesas do deputado Dr. Talmir (PV-SP) dois pedidos de telepizza, de R$19 e R$23. Seu correligionário Fernando Gabeira (RJ) pediu ressarcimento por uma refeição de R$37 no restaurante do Senado. Gastos com alimentação em Brasília estão proibidos a partir de maio. Os deputados têm até o final do mês para apresentar as notas e pedir ressarcimento. Até agora, sob as novas regras, foram divulgadas despesas de cerca de R$168 mil. O total do mês fica na média de R$7,7 milhões para os 513 deputados. O parlamentar pode gastar mais do que os R$15 mil do mês, desde que o total do ano não ultrapasse os R$180 mil a que tem direito.

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