Título: Estratégia do tudo ou nada
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 22/03/2009, Política, p. 4

Para eleger Dilma, caciques petistas pretendem abrir mão das cabeças de chapas em alguns estados, o que pode deixar o partido com menos força regional

Dilma, a candidata preferida do presidente Lula: combinação eleitoral com aliados estaduais em 2010 O PT começa a traçar uma estratégia agressiva para as eleições estaduais de 2010. Os palanques são desenhados para dar força à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. A prioridade não é a candidatura própria, mas o apoio a governadores aliados. O plano bate com intenções de diretórios regionais e pode levar os petistas a tropeçarem na meta e acabarem menores do que em 2002, quando venceram a corrida com Luiz Inácio Lula da Silva.

O presidente petista, deputado Ricardo Berzoini (SP), antecipou um giro pelos estados para colher informações entre os correligionários sobre como estão as disputas internas. Visitou o Distrito Federal, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul e continuará no périplo para ter a maquete eleitoral de todo o país pronta em, no máximo, dois meses.

A fórmula é traçada para o PT não desperdiçar a exposição dos oito anos do governo do presidente Lula. E essa visão otimista tenta levar a vitória na disputa presidencial e governar 10 estados, duplicando as vitórias de 2006. Mas há um fantasma que ronda os petistas: perder a presidência, eleger só cinco governadores e ter um desempenho abaixo do PSDB.

Como Berzoini prefere trabalhar com um horizonte majestoso, ele mostra que os palanques estaduais serão feitos respeitando algumas alianças estabelecidas com um único objetivo de dar apoio forte à candidata preferida do presidente Lula ao comando do Palácio do Planalto. Pernambuco é um exemplo fiel à estratégia. O PT tem um candidato com força eleitoral ¿ o ex-prefeito de Recife João Paulo ¿, mas a direção nacional costura o apoio ao atual governador Eduardo Campos (PSB). ¿Não é um fato consumado, mas o Eduardo é ex-ministro, é fiel ao presidente Lula, não tem por que não apoiá-lo¿, disse o dirigente. No Rio de Janeiro, outro exemplo, a cúpula do partido negocia o apoio ao governador Sérgio Cabral (PMDB), mas os petistas locais insistem na ideia de lançar candidato próprio. Um concorrente é o atual prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias.

Como a estratégia eleitoral é agressiva, Berzoini espera que seja possível comandar dois centros importantes que atualmente estão nas mãos do PSDB: Minas e São Paulo. ¿Também temos chances em Espírito Santo, DF e Rio Grande do Sul.¿ Desses cinco, o partido é realmente forte em dois. Minas tem dois pré-candidatos, o ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, e o ministro Patrus Ananias. No Espírito Santo, o prefeito de Vitória, João Coser, costura uma ampla aliança com o PMDB. ¿Nós temos condições de avançar nesses estados e manter os que nós já governamos¿, disse Berzoini. O PT tem Bahia, Sergipe, Pará, Acre e Piauí. Em quatro deles, os governadores disputarão a reeleição. Apenas no Piauí terá de lançar um sucessor de Wellington Dias.

Adversários Com a exceção do Espírito Santo e Minas, nos outros estados o cacife pesa mais para os adversários. Uma vitória petista viria, sobretudo, do erro alheio. É o caso de São Paulo. O partido aposta que conseguirá lançar o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci. Mas para não desgastá-lo, já que ele aguarda julgamento sobre o episódio envolvendo o sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, o PT alimenta esperanças de outro candidato. O prefeito de Osasco, Emídio de Souza, é lembrando com uma boa opção para a disputa.

A estratégia camicase petista se assemelha à da eleição municipal do ano passado. No papel, o PT administra hoje mais municípios do que em 2004, mas não tantos quanto esperavam os dirigentes. O argumento para minimizar os números era lembrar que eles tinham o cargo mais importante da República, a Presidência. Em 2010, esse argumento não poderá mais ser usado, caso o partido não emplaque o sucessor de Lula.