Título: Prefeitos cobram compensação de perdas e ameaçam boicotar Dilma
Autor: Lima, Maria; Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 08/04/2009, O País, p. 4

Se a gente cair, Lula e a ministra caem junto", diz Severino Cavalcanti.

BRASÍLIA. Dispostos a usar o poder de fogo que têm como cabos eleitorais nos mais de cinco mil municípios do país na campanha do sucessor do presidente Lula, em 2010, cerca de 700 prefeitos, reunidos ontem em Brasília, deram um ultimato ao Planalto: ou a área econômica edita imediatamente medidas criando um mecanismo de compensação das perdas do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) ou vão cruzar os braços e não vão pedir votos para a provável candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Houve também reação irada de prefeitos com o apelo feito na véspera por Lula, pedindo que apertem ainda mais os cintos.

Com as perdas provocadas pela desaceleração da economia e a isenção de IPI, centenas de municípios tiveram repasse zero do FPM nos primeiros dois meses de 2009. O presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, que comandou no auditório Petrônio Portela, no Senado, o seminário "Municípios e a crise brasileira", disse, em audiência pública paralela ao encontro, que as prefeituras receberão este ano cerca de R$8 bilhões a menos do que planejavam receber quando organizaram seus orçamentos.

Discursos mais inflamados do Norte e Nordeste

Prefeitos, principalmente do Norte e Nordeste, revezaram-se com discursos inflamados em que traçaram um quadro de falência das prefeituras e deixaram clara a disposição de "morrer junto" com os candidatos do governo, inclusive deputados e senadores, que tentarão novos mandatos ano que vem. Argumentaram que as prefeituras é que são os maiores empregadores, e logo vão começar a demitir, o que seria um desastre nos planos eleitorais do governo.

- Se não tiver uma solução imediata, os prefeitos vão cruzar os braços. Ninguém vai pedir votos ou trabalhar para a Dilma, deputados ou senadores. Nosso discurso com esse povo tem de ser de pressão! Ou nos ajudam ou vamos parar a nação. O bicho vai pegar, e eles vão acabar se destruindo junto com a gente - discursou o prefeito de Barra do Rocha (BA), Jonatas Ventura (PMDB). - Como o presidente Lula vem pedir para apertar o cinto? Não tem nem mais barriga, o cinto já está nas costelas. Como dividir a panela que já está vazia?

Jackson Bezerra (PSB), prefeito de Afonso Bezerra (RN), endossou:

- Daqui a pouco vamos ter que começar a demitir. Vai ser muito complicado demitir e subir no palanque para pedir voto para os candidatos do governo.

Muito aplaudido no auditório, Severino Cavalcanti (PP), ex-presidente da Câmara e atual prefeito de João Alfredo (PE), que se apresenta como o maior entusiasta de Lula, disse que estava em Brasília para reclamar e dar um conselho ao presidente:

- Por ser fã de Lula é que estou aqui para dizer a ele que faça alguma coisa logo, para que não aconteça o que já está acontecendo, que nem ele esperava. Se a gente cair, ele e Dilma caem junto. Dilma não pode chegar no palanque sem uma solução.

Presidente se reunirá com ministros para estudar ajuda

Ziulkoski saiu decepcionado da reunião com a secretária da Receita Federal, Lina Vieira, que disse que não resolveria o problema, mas apenas analisaria o quadro de arrecadação.

- Minha preocupação não é eleitoral, é resolver a situação dos municípios. Mas a própria pesquisa já acusa a queda do Lula. Já mostra que a crise afeta o lado eleitoral desde já. Em julho e agosto estaremos no fundo do poço se não houver uma solução definitiva, sem ser paliativa - disse Ziulkoski.

A situação dos municípios foi discutida ontem na reunião de coordenação de governo, mas o presidente Lula só vai anunciar medidas de socorro após a Páscoa. Hoje, Lula se reunirá com os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento) para acertar o que será oferecido aos prefeitos.

- Ele (Lula) apenas disse que alguma coisa precisa ser feita. E será feita - disse o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro.

COLABOROU Luiza Damé

oglobo.com.br/pais

Ninguém vai pedir votos ou trabalhar para a Dilma, deputados ou senadores. Nosso discurso com esse povo tem de ser de pressão! Ou nos ajudam ou vamos parar a nação

Jonatas Ventura, prefeito de Barra da Rocha (BA)

Daqui a pouco vamos ter que começar a demitir. Vai ser muito complicado demitir e subir no palanque para pedir voto para os candidatos do governo

Jackson Bezerra, prefeito de Afonso Bezerra (RN)