Título: Cresce número de motoristas bêbados no país
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 08/04/2009, O País, p. 10

Pesquisa do Ministério da Saúde revela que, após Lei Seca, hábito de beber e dirigir caiu, mas agora volta a subir.

BRASÍLIA. Em vigência no país desde junho de 2008, a Lei Seca - que pune motoristas flagrados alcoolizados - está sendo ignorada e não vem sendo suficiente para reduzir esse mau hábito dos brasileiros. Hoje, o número de motoristas que admite consumir bebida alcoólica antes de dirigir é maior até do que o registrado antes de a lei entrar em vigor. Em pesquisa do Ministério da Saúde com 54,3 mil pessoas, em dezembro de 2008, seis meses após a Lei Seca, 2,6% dos entrevistados declararam dirigir após beber. Em dezembro de 2007, antes de existir a legislação, os que admitiam dirigir alcoolizados eram 2,1%.

A pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) revelou que a Lei Seca foi eficaz apenas nos primeiros quatro meses de vigência. Entre julho e outubro de 2008, o percentual de brasileiros que misturou álcool e direção variou entre 0,9% e 1,3%, índices considerados satisfatórios pelo governo. A partir de novembro, dobrou o percentual de brasileiros cometendo esse delito: 2,1% dos entrevistados. Em março de 2009, o índice foi de 2,3%.

O ministro da Saúde, José Temporão, comparou acidentes de trânsito envolvendo motoristas embriagados a uma guerra:

- A lei é muito recente e tem de pegar. A sociedade precisa desesperadamente dessa lei. No Brasil, são 17 mil mortes por ano causadas pela relação entre bebida e direção. São números assustadores. É pior do que uma guerra. É uma guerra!

Segundo Temporão, a situação preocupa o governo:

- Acendeu a luz amarela. Enfrenta-se esse problema com duas medidas: repressão, com mais fiscalização, e blitz, para que a pessoa sinta receio de dirigir após beber. E mudança no padrão de consciência, mas isso leva tempo.

Para a Polícia Rodoviária Federal, o problema da má fiscalização ocorre nos centros urbanos. Segundo o órgão, nas rodovias federais a fiscalização continua com a mesma intensidade do início da Lei Seca, e o número de flagrantes, ao longo dos meses, diminuiu. A PRF informou que, no início da vigência da lei, encontrava-se um motorista embriagado para cada nove abordagens nas estradas. Hoje, a relação é de um bêbado para 16 motoristas fiscalizados.

O levantamento mostrou, também, que os homens abusam mais da combinação de álcool e trânsito que as mulheres. Dez vezes mais. Do total, 3% dos homens afirmaram ter esse hábito, contra apenas 0,3% das mulheres entrevistadas. Os homens se descuidam mais da saúde e têm mais vícios que as mulheres. Nos fatores de risco à saúde avaliados, constatou-se que os homens fazem menos exercícios, são mais obesos, e bebem e fumam mais que as mulheres.

- Para variar, o homem aparece cada vez pior nessa comparação. O homem parece impermeável a mensagens de promoção de saúde. Acha que nunca algo irá acontecer a ele. Acha que é todo-poderoso e que nunca ficará doente - disse Temporão.

Em relação às mulheres, o fator de risco que mais preocupa o Ministério da Saúde é o aumento do hábito de consumir bebida alcoólica, ainda que em patamares bem mais baixos que os dos homens. Das cerca de 33 mil mulheres pesquisadas, 10,5%, pouco mais de 3,5 mil, declararam um consumo abusivo de álcool. Temporão listou uma série de fatores que explicam o aumento deste comportamento feminino.

- A conquista de sua independência financeira e a inserção no mercado de trabalho explicam a adoção deste hábito.

O governo veiculará uma campanha publicitária, a partir de amanhã, para tentar reduzir o número de motoristas que dirigem embriagados. O slogan da campanha será: "Dirigir alcoolizado, quando não dá morte, pode dar cadeia".

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