Título: Lula cobra velocidade no PAC
Autor: Damé, Luiza; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 10/04/2009, O País, p. 3

Presidente pressiona ministros: "O mandato está terminando. É preciso mostrar essas obras"

Areunião de avaliação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), convocada ontem pelo presidente Lula e que contou com a presença dos principais ministros políticos do governo, foi marcada por um forte tom eleitoral. Embora evitando se referir à sucessão presidencial, Lula, em fala incisiva, cobrou agilidade e rapidez dos ministérios que tocam obras do PAC, argumentando que seu governo está quase terminando - faltam 21 meses - e é preciso mostrar à população, até 2010, a maioria das obras já concluídas. E informou aos ministros que pretende vistoriar pessoalmente as obras, em novas rodadas de viagens.

Ao cobrar celeridade na execução das obras, segundo relatos de participantes, Lula disse que "o ministro que tivesse alguma dificuldade deveria levar o problema para a mesa do presidente". Durante sua exposição, Lula ainda citou nominalmente casos de obras que não avançaram - por questões ambientais ou burocráticas - e concluiu, de forma enfática:

- O mandato está terminando. É preciso mostrar essas obras para a população em 2010.

A reunião foi realizada no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), sede provisória da Presidência. Segundo avaliação dos ministros, o objetivo do encontro foi deixar claro a todos os integrantes do primeiro escalão que o PAC será usado para ajudar a conter os efeitos da crise financeira no país e, com isso, tentar manter em alta a popularidade do presidente e seu poder de fogo nas eleições de 2010. Para Lula, a execução plena das obras da PAC ajuda a aumentar o nível de emprego. Ele voltou a defender dois ou três turnos nesses canteiros de obras, como fizera recentemente a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), durante viagem a Montes Claros (MG).

- O presidente deixou bastante claro seu envolvimento pessoal no acompanhamento das obras que estão ocorrendo no país, cobrando cronogramas, celeridade, insistindo na tese de que temos que criar condições. E insistindo também que as obras tenham mais um turno para gerar empregos. Ele anunciou que vai começar um périplo pelos estados para checar o andamento das obras e, a partir daí, vai se reunir com áreas específicas para tratar de cada assunto determinado de obras do PAC - disse o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima.

Também participaram da reunião, além de Dilma, os ministros Márcio Fortes (Cidades), Nelson Jobim (Defesa), Pedro Brito (Portos), Edison Lobão (Minas e Energia), Jorge Hage (Controladoria Geral da União) e Alfredo Nascimento (Transportes), além dos presidentes da Caixa Econômica Federal, Maria Fernanda Coelho; da Petrobras, Sérgio Gabrielli; do BNDES, Luciano Coutinho; e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim.

- O presidente está cumprindo papel administrativo, fundamental, de cobrar que seus ministros e dirigentes das empresas enfrentem problemas que surgem em todas as áreas burocráticas, ambientais. Enfrentá-los é fazer com que as obras saiam mais rápido do papel - disse Geddel, resumindo os pontos abordados.

Demissão de presidente do BB deixou clima tenso

A demissão de Antonio Lima Neto da presidência do Banco do Brasil não foi tema da pauta oficial do encontro, mas o clima de tensão era sentido por todos, e o assunto esteve presente nas conversas reservadas entre ministros. A saída do presidente-técnico do BB foi entendida por muitos como uma advertência clara do presidente à equipe: a prioridade do governo é o combate aos efeitos da crise; portanto, quem colocar dificuldade para adotar as medidas decididas pelo núcleo do governo não terá condições de permanecer na equipe. Até porque a saída de Lima Neto foi decidida pelo próprio Lula, que não escondia mais a contrariedade com a resistência do executivo em cumprir suas determinações em relação aos spreads bancários.

À tarde, Lula teve reuniões setoriais com outros ministros, também sobre o PAC, somando mais de oito horas de avaliação do programa ao longo do dia. O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, saiu do encontro dizendo que sua área não tem sido problema para obras de rodovias e ferrovias. Segundo ele, em 95% dos casos, o licenciamento ambiental está dentro dos prazos.

- A reunião avaliou obra por obra. Fomos vendo problemas ponto por ponto, repassando tudo. Não há praticamente problema algum na área de rodovias. Há um ou outro problema de prazo para coleta de animais, uma coisa que está sendo resolvida. A parte de ferrovias andou bastante, mas temos uns problemas numa ou noutra, mas não ambiental; é de composição de capital e de modelo de concessão. A área ambiental está bem na fita - disse o ministro.

Segundo Minc, o presidente deverá editar uma medida provisória simplificando o licenciamento ambiental de rodovias que já existem:

- Havia um excesso de zelo. Uma coisa é você abrir uma rodovia nova, onde há fauna e flora; outra é asfaltar uma já existente.