Título: Poder de barganha esvaziado
Autor: Azedo, Luiz Carlos
Fonte: Correio Braziliense, 22/03/2009, Política, p. 6

Cúpula do PMDB trabalha para limitar influência do deputado Eduardo Cunha apenas à bancada fluminense. Parlamentar vinha ganhando espaço na Câmara e desafiando o Palácio do Planalto

Líder peemedebista Henrique Alves (RN) em conversa com Cunha (D): boa relação abalada pela postura independente do fluminense A cúpula do PMDB agiu rápido e esvaziou o poder do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Câmara, circunscrevendo sua liderança à bancada do Rio de Janeiro, depois da onda que se criou em torno dele por causa dos métodos duros de negociação e da disputa pelo controle do Fundo de Pensão Real Grandeza, dos funcionários de Furnas. Relator da medida provisória sobre o setor de energia elétrica, como outros relatores de MPs, Cunha perdeu poder de barganha com a decisão do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), de exigir a apresentação dos relatórios 10 dias antes da votação em plenário e acabar com o bloqueio da pauta da Câmara pelas medidas provisórias.

A ação de Cunha e outros relatores de medida provisória, como o deputado Tadeu Filippelli (PMDB-DF), que resolveu transformar a rolagem das dívidas até R$ 10 mil reais com a União num Super Refis, assustou o governo, os aliados do PMDB e a oposição. Cunha e Filippelli passaram a negociar por conta própria com os agentes econômicos e jogar duro com a equipe do Ministério da Fazenda e o Palácio do Planalto, modificando as propostas originais do governo. Além disso, Cunha apresentou um pedido de criação de uma CPI para investigar os fundos de pensão, após uma rebelião dos funcionários de Furnas contra a indicação pelo PMDB de um novo diretor para o Fundo de Pensão Real Grandeza, o que irritou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e obrigou articuladores do governo na Câmara a agir rápido para apagar o incêndio.

¿Fui a favor da CPI dos Fundos de Pensão porque estavam fazendo muita onda contra o partido, que não indicou nenhum militante para o cargo. Na realidade, há uma disputa entre a direção de Furnas e a direção do Real Grandeza. O ministro Edison Lobão (Minas e Energia) fez a indicação pessoal de um técnico para o cargo, não houve barganha do PMDB. O ministro José Múcio, porém, veio me pedir para não instalar a CPI e nós assim procedemos¿, minimiza o líder da bancada, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Cunha ainda tenta recolher assinaturas mesmo sem apoio do líder. Mas o ministro das Relações Institucionais procurou as demais lideranças governistas, enquanto o líder do PT, Cândido Vaccarezza (SP), costurou acordos com a oposição, que negociava a composição das comissões técnicas. Assim, a CPI acabou esvaziada.

Menos poder Segundo Henrique Alves, desde que deixou a presidência da Comissão de Constituição e Justiça, Cunha não ocupa nenhuma posição importante na Câmara. ¿Ele é trabalhador, inteligente, competente, mas há um evidente exagero no que estão falando. Ele não é da Executiva do partido, o primeiro vice-líder da bancada é o Mendes Ribeiro Filho (RS); o Filippelli foi indicado para a presidência da CCJ pela bancada do Centro-Oeste, preocupada com o fato de a bancada de Goiás ter muita força no DEM, no PTB e no PR, cujos líderes são goianos¿, justifica Alves. Como Cunha havia indicado o ex-presidente da CCJ Leonardo Picciani (PMDB-RJ) , a ele foi atribuída a eleição de Filippelli, que não é advogado, para a mais importante comissão permanente na Câmara, o que o líder da bancada desmente.

Cunha não é de cair com o barulho da bala, tem muita força na bancada de 10 deputados do PMDB fluminense, a maior da legenda, e ainda não desistiu da CPI dos Fundos de Pensão. Preocupado com seu poder, líderes de outros partidos e deputados veteranos passaram a criticá-lo abertamente, inclusive no PMDB, como é o caso da deputada Rose de Freitas (ES) e do ex-relator da CPI do Mensalão Osmar Serraglio (PR). O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), que é deputado federal, também não poupa críticas a Cunha e trabalha para enfraquecê-lo. Pressionado por perder o controle da bancada federal, o presidente da Câmara, Michel Temer, fez um acordo com o presidente do Senado, José Sarney, e presidente Luiz Inácio Lula da Silva para resgatar o controle sobre a pauta do Congresso e enfraquecer os relatores das medidas provisórias. Com a interpretação que deu à tramitação das MPs, que deixariam de trancar a pauta, Temer ganhou autonomia em relação à bancada e mais poder junto aos líderes da Câmara.

-------------------------------------------------------------------------------- Força-tarefa

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva montou uma verdadeira força tarefa para operar com o presidente da Câmara, Michel Temer, o esvaziamento do grupo de Eduardo Cunha, que contaria com cerca de 20 deputados, a maioria do PMDB. Em um encontro, Temer disse a Lula que conhecia um caminho para esvaziar o poder de barganha dos relatores de medidas provisórias. Foi então que o presidente escalou quatro ministros para operar junto à base governista no Congresso. José Múcio Monteiro (Relações Institucionais), Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), Nelson Jobim (Defesa) e Tarso Genro (Justiça) se reuniram com o presidente da Câmara e endossaram a manobra regimental para desobstruir a pauta da Casa.