Título: Relatório da PF diz que Protógenes agiu pensando em carreira política
Autor:
Fonte: O Globo, 10/04/2009, O País, p. 4

Para corregedor, delegado adotou posição de vítima e de bastião da moralidade.

BRASÍLIA. A investigação da Polícia Federal sobre a atuação do delegado Protógenes Queiroz à frente da Operação Satiagraha confirmou que ele atuou sem prestar contas aos superiores imediatos. Também o acusa de buscar, com as investigações, projeção política e espaço na imprensa. No inquérito encaminhado à Justiça e à CPI dos Grampos na Câmara, Protógenes é indiciado por quebra de sigilo funcional, por ter partilhado de forma ilegal dados da investigação com servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), e por desrespeito ao sigilo das interceptações telefônicas da investigação.

No relatório, o delegado da PF Amaro Vieira Ferreira, responsável pela investigação, diz que Protógenes atuava sem controle efetivo, no período em que o diretor-geral da PF era Paulo Lacerda, substituído no cargo por Luiz Fernando Corrêa em setembro de 2007. Lacerda foi nomeado diretor-geral da Abin em seguida. Amaro conclui que Protógenes, com apoio de Lacerda, utilizou indevidamente servidores da Abin na operação.

"Os servidores da Abin foram introduzidos ocultamente nos trabalhos da Operação Satiagraha, o que ultrapassa qualquer limite de entendimento de que fosse mera atuação pontual com troca de dados de inteligência. Completo desvio de finalidade e desrespeito à legislação", afirma Amaro, no relatório.

Amaro diz que Protógenes foi o patrocinador da "intervenção espúria" da Abin e que passou a contar com uma "mão de obra fácil". Para Amaro, Protógenes adotou posição de vítima e de bastião da moralidade, o que lhe deu projeção na mídia, "em evidente movimento para ganho de espaço no campo político". E completa: "A realidade é completamente diferente da versão apresentada pelo personagem Protógenes Queiroz e esta foi cegamente propagada por todos".

Em nota divulgada ontem, a Abin contesta o relatório de Amaro e diz que foi legal a cooperação de seus servidores com Protógenes: "A Abin também rejeita a possibilidade de que vazamentos sejam atribuídos a seus servidores, sem que, para isso, a autoridade policial tenha conseguido obter um sólido conjunto probatório material, baseando, aparentemente, suas ilações no sentido de exculpar alguns e tecer juízos acerca de servidores da Abin".

Embora lotado na Diretoria de Inteligência Policial, Protógenes é acusado, no relatório, de não prestar contas de suas ações ao seu superior imediato. "Queiroz não reportava o andamento da operação que estava sob seu comando. Dizia que ia bem, mas sem detalhes. Efetuava deslocamento para determinada região e praticamente sumia", disse, no relatório, o delgado Renato Porciúncula, seu chefe à época. Além de Protógenes, o inquérito indicia quatro policiais federais que trabalharam com ele na Satiagraha.

O relatório de Amaro Ferreira acusa ainda Protógenes de oferecer à TV Globo a possibilidade de filmar vários momentos da Operação Satiagraha, inclusive a prisão do banqueiro Daniel Dantas, do ex-prefeito Celso Pitta e do investidor Naji Nahas. As prisões ocorreram em São Paulo.

Além da imagem da prisão dos investigados, o relatório da PF afirma também que Protógenes usou uma equipe da TV Globo para filmar um encontro no restaurante El Tranvia, em São Paulo, em que os empresários Hugo Chicaroni e Humberto Brás pagaram propina de R$50 mil para o delegado Victor Hugo Leal. A intenção dos empresários era supostamente evitar o aprofundamento das investigações contra Daniel Dantas. A TV Globo não vai se pronunciar sobre o assunto.

oglobo.com.br/pais